No dia 25 de outubro a Jornada “Interações Aquacultura Ambiente nas Zonas Húmidas do Sudoeste Ibérico”, que decorreu no auditório do Instituto Português da Conservação da Natureza e Florestas, no Parque Natural da Ria Formosa, em Olhão, onde reuniu investigadores do consórcio do projeto AQUA&AMBI II (POCTEP-INTERREG V, Espanha e Portugal), para apresentar resultados do trabalho desenvolvido nos últimos 3 anos, na região transfronteiriça Algarve-Alentejo-Andaluzia (www.aquaambi-poctep.eu/projeto-fase2), e que mobilizou participantes dos setores da administração, de universidades, de centros de investigação e empresas, num total de cerca de 80 participantes (presencial e por videoconferência). Sendo o objetivo principal valorizar os serviços ecossistémicos da aquacultura e a recuperação de espaços na Rede Natura 2000, os resultados apresentados pelo consórcio incidiram sobre ordenamento do território através do desenvolvimento de ferramentas para apoiar a gestão da orla costeira, identificando áreas com potencial para aquacultura sustentável associada a outras atividades económicas; na contribuição para os serviços do ecossistema de atividades produtivas sustentáveis desenvolvidas nas zonas húmidas (aquacultura integradas, salicultura, etc.); na avaliação do capital natural (flora e recursos faunísticos) existente na região e a sua importância para atividades de turismo; na identificação de recursos locais com potencial para sector da economia azul (ex. macroalgas, halófitas, etc.), na utilização de sistema de produção de aquacultura integrada (ex: IMTA), na importância da capacitação de recursos humanos, bem como na existência processo para certificar o tipo de produção e a qualidade do produto. De entre todos os resultados, destaque para a demonstração a atividade da aquacultura extensiva e integrada nestes espaços contribuiu para aumentar a biodiversidade faunística.
De forma a enriquecer o debate foram ainda convidados para a Jornada o ICNF para proferir uma palestra sobre a importância de medidas de conservação das zonas húmidas costeiras, dada a sua importância para os serviços do ecossistema, e, a empresa RiaFresh dedicada à produção e comercialização de plantas halófitas (ex: salicórnia), como exemplo de um caso de sucesso utilizando recursos naturais das zonas húmidas. A dinamização da identidade produtiva destes espaços é um importante motor de desenvolvimento da economia azul.
A importância da aquacultura para a economia azul foi ainda o foco do seminário realizado nos dias 26 e 27 de outubro, no auditório do IPMA em Olhão, com o título “Investigação em Aquacultura: Contribuição para o crescimento azul”, o qual reuniu quase uma centena de investigadores, empresários e estudantes, para dar a conhecer os resultados de três projetos de Aquacultura que agora terminam, financiados pelo MAR2020 e Fundo Azul.
Foram 3 os projetos financiados pelo MAR2020 e o Fundo Azul e que, durante os últimos 5 anos, exponenciaram a Investigação na área da Aquacultura em Portugal. Os resultados dos mesmos foram agora apresentados pelos investigadores ao longo dos dois dias de seminário, cujo programa foi alinhado em quatro painéis temáticos, integrando também apresentações dos produtores.
O primeiro painel foi dedicado ao projeto DIVERSIAQUA II, financiado pelo MAR2020, que direcionou os seus trabalhos para o desenvolvimento da produção de espécies emergentes como a corvina, a sardinha, macroalgas e microalgas.
No segundo painel, foi possível acompanhar a investigação na produção de ouriço-do-mar desenvolvida pelo projeto OURIÇAQUA, financiado pelo Fundo Azul. O ouriço-do-mar é uma espécie com grande valor comercial, principalmente no mercado asiático e poderá também contribuir significativamente para o crescimento do mercado europeu.
O painel III foi preenchido com apresentações no âmbito do projeto SAÚDE&AQUA, financiado pelo MAR2020, e apresentou o desenvolvimento da sanidade e bem-estar animal em aquacultura. Foram abordadas diversas linhas de trabalho relacionados com a melhoria da produção de espécies de aquacultura, procurando apresentar medidas preventivas e respostas inovadoras para alguns problemas que possam surgir.
O último painel do evento focou-se na importância da ligação do mundo académico e científico com o setor empresarial, para promover o desenvolvimento da Aquacultura em Portugal. Representantes de dois dos Colabs do Algarve, o S2AQUAcoLAB e GreenColab, demonstraram o papel dos laboratórios colaborativos como elo de ligação entre estas duas vertentes.
Aquacultura nacional atinge 25 mil toneladas em 2026
A iniciativa terminou com uma mesa-redonda com a presença da Secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, o Diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, Pedro Valadas Monteiro e o Diretor da Estação Piloto de Piscicultura de Olhão e presidente da Direção do S2AQUAcoLAB, Pedro Pousão-Ferreira.
Neste debate, foi possível ouvir representantes de empresas que expressaram algumas das dificuldades e preocupações que o setor da aquacultura enfrenta, nomeadamente relacionadas com os processos de licenciamento e falta de áreas disponíveis para a produção.
O balanço deste encontro foi francamente positivo, quer pela audiência que acedeu ao convite e esteve presente, quer pela reflexão que proporcionou, possibilitando concluir que a Aquacultura portuguesa tem crescido significativamente ao longo dos últimos anos e tem, seguramente, margem para crescer ainda mais de forma a suprimir as necessidades de produtos do mar. Este crescimento terá de ser baseado na disponibilidade de áreas de produção.
No debate com os presentes, a Secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, deixou ainda a garantia de que a meta de produção de 25 mil toneladas, que estava inicialmente prevista para 2030, vai ser antecipada para 2026, graças à inovação e performance das empresas nacionais.