Há alguns anos que os bilionários em Silicon Valley, nos Estados Unidos, procuram formas de prolongar a vida. Financiam trabalho científico para entender, retardar e, até, reverter o envelhecimento. A mais recente aposta surgiu em janeiro, com o lançamento da Altos Labs, uma empresa de biotecnologia cujos investidores não foram divulgados oficialmente, mas há informações de que entre eles está Jeff Bezos, um dos homens mais ricos do mundo e que deixou a liderança da Amazon no ano passado.
Com um orçamento de três biliões de dólares, a Altos Labs apresenta-se com o objetivo de “transformar a medicina através da programação do rejuvenescimento celular”. A missão passa por “restaurar a saúde e a resiliência celular” para reverter doenças e lesões que podem ocorrer ao longo da vida. O trabalho é desenvolvido com uma comunidade de cientistas, clínicos e líderes académicos e da indústria, num esforço colaborativo para desenvolver “medicamentos transformadores”, lê-se em comunicado.
A equipa conta com quatro vencedores de prémios Nobel: Frances Arnold (Nobel da Química em 2018), Shinya Yamanaka (Nobel da Medicina em 2012), Jennifer Doudna (Nobel da Química em 2020) e David Baltimore (Nobel da Medicina em 1975). Arnold explica que “agora, mais do que nunca, é o momento de reestruturar a abordagem à saúde ao compreender, retardar e até reverter os processos que conduzem à doença e à morte”. “A possibilidade de programação do rejuvenescimento só recentemente se tornou uma realidade científica e tem o potencial de nos permitir abordar a doença humana de uma forma totalmente nova”, acrescenta Yamanaka.
Outro dos cientistas contratados pela empresa é o espanhol Juan Carlos Izpisua, que nega que o projeto seja apenas um capricho de um milionário que quer ser imortal. “O nosso interesse é avançar nesta área de conhecimento e abrir o campo o mais amplo possível, para que, com o tempo, todos possam beneficiar”, disse ao diário espanhol “El País”. O principal objetivo é “permitir que as pessoas tenham uma vida mais saudável durante um período de tempo mais longo e inverter a doença em pacientes de todas as idades”, acrescentou.
VÁRIAS TENTATIVAS, DÚVIDAS SOBRE OS RESULTADOS
Jeff Bezos já tinha investido na Unity Technology (tal como Peter Thiel, um dos fundadores da PayPal), uma empresa fundada em 2011 que trabalha para “desenvolver terapêuticas para retardar, travar ou reverter doenças relacionadas com o envelhecimento”. O foco está nas doenças oftalmológicas e nas condições neurológicas relacionadas com a idade. “As pessoas dizem que a morte é natural, que faz parte da vida, e eu penso que nada pode estar mais longe da verdade. A morte é um problema que pode ser resolvido”, disse Thiel na altura.
Outro exemplo é a Calico Labs, empresa de biotecnologia criada em 2013 por um dos fundadores da Google, Larry Page. Tal como a Altos Labs, também a Calico Labs contratou cientistas de renome com generosos orçamentos, embora o progresso feito até ao momento seja questionado.
Silicon Valley também conta com um prémio de um milhão de dólares dedicado ao “fim do envelhecimento”. O objetivo é incentivar a investigação de inovações que “acabem com o envelhecimento” ao “restaurar a capacidade homeostática do corpo” e que “promovam o prolongamento da vida”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL