Metade dos utilizadores de Internet acede às notícias pelo Facebook e outras redes sociais, indica um estudo divulgado esta terça-feira, que alerta para consequências profundas no jornalismo tradicional e de qualidade.
“Uma segunda onda de disrupção abateu-se sobre as organizações noticiosas a nível mundial, com consequências potencialmente profundas, tanto para os editores como para o futuro da produção jornalística”, lê-se na apresentação deste trabalho do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo.
Nele destaca-se o impacto combinado das redes sociais, “uma mudança acelerada para os dispositivos móveis e um aumento da rejeição da publicidade online”, factores que “estão a debilitar os modelos de negócio que possibilitam a produção de notícias de qualidade”.
Para este estudo, o Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, fez mais de 50 mil entrevistas em 26 países, Portugal incluído. Dele destaca-se, principalmente, que 51% dos utilizadores online preferem as redes sociais para aceder às notícias, em detrimento dos canais tradicionais. Plataformas como o Facebook deixaram “de ser apenas o local onde se descobrem as notícias e passaram a ser destinos para o próprio consumo de notícias”.
À medida que aumenta o acesso às notícias através de plataformas de terceiros, “vai-se tornando cada vez mais difícil, para a maioria dos meios de comunicação social, destacarem-se no meio da multidão, ligar-se mais directamente aos utilizadores e fazer dinheiro. Este desenvolvimento vai gerar alguns vencedores e muitos perdedores”, diz o director de pesquisa do Instituto, Rasmus Kleis, citado na apresentação.
Quem escolhe é o algoritmo
Do inquérito nos 26 países, destaca-se que cada vez mais as pessoas bloqueiam a publicidade e que é lento o pagamento de notícias online. Tudo junto, aliado à queda de circulação de jornais impressos e da publicidade, está a levar ao desemprego no sector da imprensa.
Segundo o inquérito, da metade de utilizadores online, que usam as redes sociais como fonte de informação, 12% diz que elas são a principal fonte. Em alguns países, a rede Youtube também tem um papel importante no consumo de notícias, seguida do Twitter.
As redes sociais são mais importantes para as mulheres e para os jovens, estes usam mais as redes sociais para se informarem do que a televisão. “Uma geração que prefere que as notícias sejam escolhidas por computadores em vez de humanos emergiu a uma velocidade surpreendente. A pesquisa mostra que muitos consumidores estão mais confortáveis com escolhas feitas por algoritmos, em vez das feitas por editores ou jornalistas”, afirma-se também no estudo, segundo o qual mais de metade dos inquiridos (53%) disse que usa o telemóvel para aceder às notícias, uma “proporção significativa” logo pela manhã (em detrimento da televisão, rádio ou jornal).
Além da diminuição de vendas de jornais em papel, na maioria dos 26 países, as tendências indicam ainda uma fraca adesão aos vídeos noticiosos. Apenas um quarto dos inquiridos disse aceder a notícias em formato vídeo – “um surpreendente fraco crescimento”, dado o grande investimento na oferta de vídeo –, especialmente por acharem que a leitura é mais rápida e não gostarem dos anúncios na pré-visualização.
Em resumo, segundo o estudo, o online rivaliza com a televisão, como principal fonte de notícias, e a leitura em papel continua a diminuir, embora os grupos de jornais ainda têm grande parte dos conteúdos consumidos neste formato.
O estudo, que é apresentado em Lisboa no próximo mês, pelo Instituto Reuters e pelo Observatório da Comunicação (OberCom), é o quinto relatório anual que acompanha a transição da indústria das notícias para um futuro cada vez mais digital e de multiplataforma.
(Agência Lusa)