Um em cada três utentes residentes em algumas regiões portuguesas não tem médico de família, numa altura em que cada vez mais pessoas procuram os centros de saúde, denunciou o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar.
A propósito do Dia Mundial do Médico de Família, que se assinala esta terça-feira, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Rui Nogueira, realçou o papel dos médicos de família e alertou para a falta destes profissionais.
“Neste momento temos uma crise, motivada pela reforma antecipada e pelas alterações das regras de aposentação, há dois anos atrás, que levou a uma saída de muitos profissionais em fim de carreira”, disse.
Segundo Rui Nogueira, existia um milhão de cidadãos sem médico de família, número que terá diminuído para 800 mil, há dois anos atrás, quando foram criadas as Unidades de Saúde Familiar (USF).
“Agora temos um milhão e 300 mil utentes sem médico de família, o que é muito preocupante e mais preocupante porque, em alguns lugares, como Lisboa e Algarve, a situação é muito mais grave e notória do que no resto do país”, adiantou.
Para Rui Nogueira, “é grave” existir 20 por cento de utentes sem médico de família, mas no Algarve e em alguns locais da Grande Lisboa a percentagem de utentes sem médico de família atinge os 30 por cento.
O presidente da APMGF sublinhou que esta falta de médicos de família acontece numa altura em que cada vez mais utentes são atendidos nos centros de saúde.
Solução não passa pelo aumento das listas de utentes por médico
Para Rui Nogueira, a solução não passa pelo aumento das listas de utentes por médico.
“Podemos aumentar os doentes por médico, mas depois os médicos não têm capacidade de resposta, nem os doentes consultas disponíveis”, disse.
Rui Nogueira lembrou que, no ano passado, limparam-se as listas de utentes e aumentaram-nas de 1.550 para 1.900 por médico.
“Há colegas que já ultrapassam muito esse número, em situações desesperantes, até mesmo para números perfeitamente impossíveis, porque não é razoável, não é possível, ir muito além dos 2.000 utentes, não há capacidade de resposta”, declarou.
Esse aumento, prosseguiu, obrigaria a que cada médico realizasse 40 ou 50 consultas por dia. “É impossível. Existe, mas são casos pontuais. Não sendo ilegal, imoral é seguramente, especialmente para os doentes que pensam que têm médico e não têm”.
Sobre o papel do médico de família, Rui Nogueira destacou o papel de proximidade com os utentes, através da qual se identifica os efeitos da crise nas famílias portuguesas.
“As pessoas têm hoje mais dificuldades em viver, até mesmo em vir à consulta, porque têm de pagar transportes, comprar alguns medicamentos ou fazer alguns exames complementares. As pessoas têm mais dificuldades e vivem com mais tristeza. As depressões são mais frequentes”, adiantou.
Rui Nogueira destaca o impacto do desemprego nas famílias, tanto nos filhos como nos avós que sofrem com este flagelo.
“Os avós sofrem com o desemprego dos filhos e dos netos, que se vêem obrigados a ajudar”.
(Agência Lusa)