Excelentíssimo Senhor
Presidente da Assembleia Municipal
Excelentíssimo Senhor Vice-Presidente da CM Silves
Excelentíssimos Senhores Vereadores
Excelentíssimos Membros da Assembleia Municipal
Excelentíssimos Senhores Presidentes das Uniões e Juntas de Freguesia
Caros Concidadãos
Senhores Jornalistas
Estamos hoje aqui nesta importante e significativa sessão solene a comemorar os 45 anos da madrugada libertadora do 25 de Abril.
Tal como escreveu Sophia “esta é a madrugada que eu esperava, o dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio, e livres habitamos a substância do tempo.”
Este é tempo e o dia de comemorar Abril.
Que está bem vivo na nossa memória, na nossa ação e que está bem presente no nosso coração.
25 de Abril é razão e coração.
Queremos sublinhar e valorizar o contributo de todas as entidades, do movimento associativo, dos órgãos autárquicos e das populações na organização e na participação nos diversos eventos do nosso programa.
Um programa que lembrou os discos que fizeram Abril, pois Abril deve também muito ao papel da mensagem escrita e cantada, que despertou consciências, que uniu forças, afirmou a esperança e exaltou a mudança.
Um programa que evocou as Memórias de Abril que nos acompanham no dia a dia.
Um programa que não esqueceu o 90.º aniversário de José Afonso e o seu papel na resistência e na luta enquanto expressão e voz dos trabalhadores e do povo.
Programa que também lembra que houve “Vidas clandestinas”, vidas que se entregaram à luta, com coragem, com determinação, com empenho e com muita confiança num futuro melhor. E que importa lembrar quando alguns pretendem passar a ideia de que a ditadura fascista foi uma invenção.
E pela importância do dia que se seguiu à longa noite do fascismo, evoco também o poema “O Dia da Liberdade” da autoria de José Jorge Letria:
“Este dia é um canteiro
com flores todo o ano
e veleiros lá ao largo
navegando a todo o pano.
E assim se lembra outro dia febril
que em tempos mudou a história
numa madrugada de Abril,
quando os meninos de hoje
ainda não tinham nascido
e a nossa liberdade
era um fruto prometido,
tantas vezes proibido,
que tinha o sabor secreto
da esperança e do afeto
e dos amigos todos juntos
debaixo do mesmo teto.”
E foi pelo papel dos amigos todos juntos, que partilhavam o mesmo teto, o teto da luta, o teto da fábrica, da praça de jornas, das universidades e escolas, o teto da faina, dos campos, o teto do espaço e do tempo onde era imperioso lutar contra a exploração, contra a injustiça, contra a repressão, que se criou as condições para que os militares fizessem emergir em 25 de Abril o que era a vontade imensa de um povo.
Povo que saiu à rua e selou com a unidade Povo-MFA o caminho que queria percorrer.
Que era também de afeto, e de muita esperança querendo navegar a todo o pano, para que a vida melhorasse e a esperança se concretizasse.
Por isso tudo dizemos com convicção que trazemos Abril no coração, na memória e na prática quotidiana. Abril que concretizou marcas profundas para sempre assinaladas na história de Portugal. Introduzindo substanciais melhorias na vida dos portugueses. Conquistas que batizámos de Abril.
Sendo o 25 de Abril o dia inicial, inteiro e limpo, ele foi muito mais do que isso. Um dia que resulta da luta do passado. Um dia que é construção do futuro. Futuro e valores que ficaram transpostos na Constituição da República Portuguesa aprovada em 1976 e publicada também num mês de Abril.
Pela sua importância recordo o que diz o preâmbulo da nossa Constituição:
“A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.
Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.
A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país.
A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.”
E são estes valores que continuam atuais.
Apesar das vagas de ataques que têm sido desferidos contra Abril. Visando destruir muitas das suas conquistas. Dando primazia às imposições externas em detrimento da defesa dos interesses do País.
Desvalorizando a produção nacional e o papel do trabalho e dos trabalhadores. Acentuando as desigualdades na distribuição dos rendimentos e entre regiões.
Drenando meios e recursos para o capital financeiro de que é exemplo recente a informação de que o Banco Central Europeu terá um lucro superior a 13 mil milhões de euros, com a dívida portuguesa.
Atacando o Poder Local Democrático e apoucando o seu papel fundamental no desenvolvimento das nossas localidades e na promoção do bem-estar das populações de que são exemplo, os ataques à autonomia, os sucessivos cortes no financiamento, a tentativa de desvalorização dos serviços públicos e o processo de transferência de encargos que está em curso.
A raiz dos problemas com que nos confrontamos na atualidade, não estão nos ideais de Abril, mas têm raiz no seu afastamento. É pois, necessário avançar no caminho de Abril. Não há ventos a favor para quem navega sem rumo, e nós queremos rumar afirmando os valores de Abril.
Foi possível avançar nestes últimos anos, na melhoria dos rendimentos e dos direitos. Mas é necessário fazer muito mais. É necessário ir mais longe em todos os aspetos.
Termino exaltando mais uma vez o papel dos que sempre resistiram.
Dos que souberam dizer que não à ditadura fascista e souberam dizer sim à luta pela construção de um futuro melhor.
De um futuro que valorize quem trabalha.
De um futuro que se constrói com perseverança, com confiança e com muita, muita esperança. Um futuro num mundo melhor que constitui um sonho milenar da humanidade.
Continuamos a acreditar nesse sonho que queremos transformar em realidade. É o que fazemos quotidianamente com o nosso contributo de participação cívica, política e transformadora.
A população do concelho de Silves pode continuar a contar connosco nesta tarefa exaltante e desafiante de exercer funções a pensar nos que mais necessitam, a provar que é possível fazer diferente, a demonstrar que não esquecemos as nossas origens e a nossa fidelidade aos ideais que perfilhamos, ao território a que pertencemos e ao povo que servimos.
Mas esse sonho que nos anima está bem expresso na poesia de António Gedeão:
“Eles não sabem, nem sonham,
Que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança.”
Continua a ser tempo de sonhar, mas é também tempo de avançar. É tempo de decididamente afirmar Abril.