A propagação do vírus do Nilo Ocidental está a gerar crescente preocupação no sul de Espanha, onde o número de infeções e mortes não para de aumentar. Com um total de 71 casos confirmados e sete mortes, a última registada em Mairena del Aljarafe, na região de Sevilha, o país ocupa agora o terceiro lugar na Europa com maior impacto deste vírus. A situação é descrita pela Euronews como alarmante, principalmente porque em 80% dos casos o vírus quase não apresenta sintomas, mas em 1% dos infetados pode ser fatal.
Apesar da maioria das infeções ser assintomática ou ligeira, há casos graves que continuam a intrigar a comunidade científica. “Há um pequeno número de infeções graves em jovens sem patologias prévias e ainda não sabemos a razão pela qual em algumas pessoas a doença se apresenta quase sem sintomas, enquanto noutras leva a casos mais graves”, alerta Jordi Figuerola, investigador do Conselho Superior de Investigações Científicas em Espanha, citado pela Euronews. Este desconhecimento sobre a variabilidade dos efeitos do vírus tem sido um desafio para os investigadores que procuram soluções mais eficazes para combater a doença.
A nível europeu, o vírus do Nilo Ocidental já foi identificado em 16 países. Itália regista o maior número de casos, com 331 infeções e 13 mortes. No entanto, a Grécia apresenta o maior balanço de vítimas mortais, com 25 óbitos em 162 casos, de acordo com os dados citados. Este surto atual reflete o padrão global de propagação do vírus, que foi detetado pela primeira vez no Uganda, em 1937, e desde então tem sido responsável por milhares de casos em todo o mundo.
Em algumas localidades espanholas, a propagação do vírus está a alterar drasticamente a rotina dos habitantes. “Condicionou a nossa vida quotidiana, agora as casas estão sempre fechadas e com proteções nas janelas”, refere Juan José Sánchez Silva, porta-voz da plataforma “Lucha contra el virus del Nilo”. Criada nas redes sociais, esta plataforma tem como objetivo dar voz aos cidadãos preocupados com a situação e reivindicar uma intervenção mais assertiva por parte das autoridades. Nas últimas semanas, diversas manifestações tiveram lugar em várias localidades da região de Sevilha, onde os residentes exigem medidas sanitárias mais rigorosas e a implementação de um protocolo de ação eficaz para detetar rapidamente o vírus nos infetados.
A população também pede o desenvolvimento urgente de uma vacina para prevenir futuros surtos. Neste sentido, o projeto europeu LWNVIVAT, liderado pelo biólogo Jorge Carrillo nos laboratórios do IrsiCaixa, em Barcelona, está a trabalhar no desenvolvimento de vacinas e terapias para limitar o impacto do vírus do Nilo Ocidental. “A vacina está a ser estudada e é um projeto em que participam vários países europeus”, revela Carrillo. Embora a investigação ainda esteja numa fase inicial, o projeto já recebeu mais de cinco milhões de euros de financiamento da União Europeia. No entanto, os especialistas alertam que os resultados finais poderão demorar entre três a oito anos a surgir, o que coloca uma urgência acrescida nas medidas de prevenção atuais.
Enquanto a vacina não chega, a comunidade científica e as autoridades de saúde reforçam a necessidade de adoção de medidas preventivas, tanto a nível individual como coletivo. A sensibilização para a proteção contra picadas de mosquitos, principais transmissores do vírus, é essencial. O uso de redes mosquiteiras, repelentes e a eliminação de água parada, onde os mosquitos proliferam, são algumas das práticas recomendadas para mitigar o risco de infeção.
Com o aumento das temperaturas em países como Portugal, que também integra a lista de nações com condições propícias à propagação do vírus, a vigilância e a cooperação internacional são fundamentais para travar a escalada desta ameaça silenciosa.
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