O aborto não está à mesma distância para todas. O caminho no interior do país, como em tantos outros pontos, diverge do do litoral. Há distritos inteiros onde o acesso falha.
De acordo com números da Direção-Geral da Saúde partilhados com o Expresso, cerca de dois terços (69,8%) dos hospitais do SNS realizam consulta de interrupção voluntária da gravidez (IVG). E são 13, num total de 45, os que não a disponibilizam. Mas na mancha do país as realidades divergem tanto ou mais do que as idiossincrasias do território.
De Beja a Portalegre escasseia o serviço: as mulheres têm de se dirigir a Lisboa ou a Faro, no Algarve. Sendo gratuito, mesmo quando encaminhadas para o privado, há três dias obrigatórios entre a consulta prévia e o procedimento em si, com o tempo fora de casa e as deslocações pagas pela mulher.
Também nos Açores faltam opções. Dos três hospitais do arquipélago, só o Hospital da Horta, na ilha do Faial, tem consulta de IVG, e depende da “deslocação e disponibilidade presencial de um médico especialista (externo)”.
No caso de este não poder, como para os outros dois hospitais, o de São Miguel e o da ilha Terceira, “o procedimento é referenciar as utentes para uma unidade privada de saúde localizada em território continental”, diz ao Expresso a Direção Regional de Saúde dos Açores, sem especificar qual nem esclarecer se as despesas de deslocação e de estada na capital são asseguradas.
Mas também em Cascais, onde já existiu serviço, deixou de existir. Também falta em Setúbal e no Hospital Amadora-Sintra, localizado numa área “de grande densidade populacional, com muitas mulheres em idade fértil”, descreve Maria José Alves, médica obstetra responsável pela consulta de IVG na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa.
Dos hospitais da ARS de Lisboa e Vale do Tejo quase metade (6 em 13) não tem consulta de IVG. Em muitos nunca chegou a existir.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL