O frigorífico é um dos eletrodomésticos mais utilizados no quotidiano, garantindo a conservação dos alimentos e prevenindo a sua deterioração precoce. No entanto, apesar de oferecer condições adequadas de armazenamento, pode também tornar-se um foco de contaminação alimentar se os produtos não forem devidamente acondicionados.
Especialistas alertam para a presença de bactérias e outros microrganismos que podem proliferar em determinados alimentos, mesmo quando refrigerados. Entre os principais riscos estão proteínas de origem animal, vegetais frescos e arroz cozinhado, que podem albergar agentes patogénicos prejudiciais à saúde.
Nem todos os alimentos são seguros, mesmo no frio
Segundo o Dr. Daniel Atkinson, especialista clínico da plataforma Treated.com, “todos os alimentos podem, potencialmente, causar intoxicação alimentar se não forem armazenados e consumidos corretamente”. O especialista alerta para o risco de produtos deixados demasiado tempo no frigorífico, consumidos após o prazo de validade ou reaquecidos de forma inadequada.
Matt Taylor, consultor alimentar da organização NSF, reforça que os alimentos ricos em proteínas, como carne, peixe, leite, queijo e ovos, são especialmente suscetíveis à contaminação bacteriana. O cientista alimentar Bryan Quoc Le acrescenta que produtos como queijos frescos, peixe fumado e leite não pasteurizado apresentam riscos elevados devido à possível presença de microrganismos resistentes às baixas temperaturas.
Além disso, carnes processadas e fatiadas, como charcutaria e frios vendidos ao balcão, podem ser contaminadas por Listeria monocytogenes, uma bactéria que sobrevive à refrigeração, alerta o professor Dennis D’Amico, especialista em microbiologia alimentar da Universidade de Connecticut.
Vegetais frescos e arroz cozinhado: riscos ignorados
Embora sejam vistos como opções saudáveis, vegetais frescos podem conter bactérias e esporos que se acumulam nas folhas e raízes. Produtos como saladas pré-embaladas, rebentos e cogumelos devem ser bem lavados antes do consumo, utilizando escovas higienizadas regularmente, aconselha D’Amico.
Outro produto frequentemente ignorado é o arroz cozinhado, que pode ser um veículo de contaminação por Bacillus cereus. Esta bactéria pode sobreviver ao processo de cozedura e proliferar se o arroz for deixado à temperatura ambiente. “O arroz cozinhado deve ser refrigerado imediatamente após arrefecer e consumido no prazo de 24 horas”, aconselha Atkinson.
As sobras de arroz provenientes de refeições de take-away são ainda mais preocupantes. “Os aditivos e especiarias podem mascarar sinais de deterioração, tornando difícil perceber se o arroz já não está próprio para consumo”, acrescenta o especialista.
Refrigeração não significa segurança absoluta
Muitas pessoas acreditam que conseguem identificar alimentos estragados pelo cheiro ou aspeto, mas isso nem sempre é possível. “Muitas bactérias perigosas, como Salmonella e Listeria, não alteram o cheiro, sabor ou textura dos alimentos”, alerta a nutricionista Tracee Yablon Brenner.
Jason Reese, advogado especializado em intoxicações alimentares, acrescenta que “o frio pode abrandar a proliferação bacteriana, mas não a impede totalmente”, razão pela qual a temperatura do frigorífico deve ser mantida entre 2°C e 4°C. Estudos indicam que a média de temperatura nos frigoríficos domésticos ronda os 7°C, o que já representa um risco elevado para a segurança alimentar.
Erros comuns que aumentam os riscos
Vários hábitos diários podem contribuir para o aumento do risco de intoxicações alimentares. Entre os erros mais frequentes encontram-se:
- Guardar alimentos sem tampa ou embalagem adequada, permitindo a propagação de microrganismos pelo ar do frigorífico.
- Deixar comida à temperatura ambiente durante longos períodos antes de refrigerar, favorecendo o crescimento bacteriano.
- Ignorar avisos de recolha de produtos contaminados, não eliminando imediatamente os itens potencialmente perigosos.
- Não verificar a temperatura do frigorífico regularmente, permitindo que os alimentos permaneçam num ambiente inadequado para a conservação.
Regra de ouro: “Se houver dúvida, deite fora”
Para minimizar riscos, os especialistas aconselham a etiquetagem dos alimentos com a data de armazenamento e o cumprimento rigoroso das datas de validade e instruções de conservação.
“Se não tiver a certeza sobre a segurança de um alimento, o melhor é descartá-lo”, sublinha Taylor. O desperdício alimentar deve ser evitado, mas quando se trata de segurança alimentar, é preferível errar pelo excesso de precaução do que arriscar complicações de saúde.
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