Ser hipertenso em Portugal é, infelizmente, uma realidade comum. De tão comum que temos de estar atentos a como a hipertensão arterial é diagnosticada e como a pressão arterial é medida no consultório, nas farmácias, nos rastreios ou em casa.
Ser hipertenso (aumento da pressão arterial), em repouso é apresentar uma pressão sistólica superior ou igual a 140 milímetro de mercúrio (mmHg) e/ou uma pressão diastólica superior ou igual a 90 mmHg.
O diagnóstico da hipertensão arterial passa, obrigatoriamente, pela determinação correta da pressão arterial. Para a medir, são necessários um aparelho adequado (esfigmomanómetro) e um técnico de saúde que saiba o que vai fazer: que não prescinda das condições mínimas, técnicas e ambientais, para a efetuar.
A determinação da pressão arterial continua a ser um dos gestos mais importantes na clínica médica, mas, infelizmente, uma das técnicas em que mais imprecisões são realizadas e menos cuidados são tomados. Anote alguns dos cuidados que temos de ter na determinação da pressão arterial: o ambiente tem de ser sossegado, para que você se sinta calmo e relaxado; tem de estar confortavelmente sentado, pelo menos durante um a três minutos antes deste processo; não deverá ter fumado ou bebido café na meia hora anterior (e, já agora, convém também saber se precisa de ir à casa de banho); o braço usado para a medição deve estar sem roupa apertada e devidamente apoiado, enquanto que a sua posição deve permitir que a braçadeira possa ficar ao nível do coração; a variabilidade da pressão arterial torna aconselhável a repetição da avaliação; enquanto estiver neste processo não fale, e procure não estar inquieto e ansioso.
Avaliar clinicamente um doente com hipertensão arterial é bem mais do que medir a sua pressão arterial ou ouvir as suas queixas e sintomas. A apreciação do doente, antes e depois do início do tratamento tem de procurar diagnosticar e identificar uma possível causa da doença, avaliar as suas repercussões nos órgãos sofredores pela subida persistente e mantida da pressão arterial (coração, cérebro, olhos, rins e vasos sanguíneos), e identificar e valorizar outros possíveis fatores de risco coexistentes (como a diabetes, tabagismo, aumento do colesterol plasmático, obesidade e antecedentes familiares da doença).
O tratamento da hipertensão arterial pretende, a curto prazo, reduzir e controlar a pressão arterial, de modo a contrariar, a médio prazo, a progressão da doença e a sua repercussão nos órgãos-alvo, assim como a melhorar, a longo prazo, a morbilidade e a mortalidade cardiovascular associada a esta doença.
É estrutural gerir a participação de todos num plano de saúde de prevenção cardiovascular. Os erros alimentares, o excesso de sal, os hábitos e comportamentos aditivos (hábitos tabágicos e a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas), o sedentarismo e a inatividade física, a obesidade e a má gestão do stress estão entre os principais fatores relacionados com a hipertensão arterial e o risco cardiovascular. É fundamental criar condições ambientais, económicas e sociais mais favoráveis à saúde e à escolha de comportamentos saudáveis, e favorecer a participação dos cidadãos na conceção e desenvolvimento de ações de prevenção. Finalmente, é obrigatório diagnosticar adequada e atempadamente a hipertensão arterial, e ao mesmo tempo usar racionalmente a melhor e a mais adequada terapêutica medicamentosa, tendo em conta a gravidade de cada situação e as especificidades de cada doente, estimulando, por todos os meios, uma resposta positiva ao tratamento e o enriquecimento da relação médico-doente.
São vários os medicamentos (e os grupos farmacológicos) disponíveis e usados para baixarem a pressão arterial (medicamentos anti hipertensores). Não há medicamentos perfeitos e não há qualquer razão para dizer que este ou aquele fármaco deve ser o preferido para iniciar o tratamento em todos os doentes. Cada doente é um doente. Mas temos a noção que, na larga maioria, vamos precisar de pelo menos dois fármacos em simultâneo (por exemplo, em associações fixas), para conseguir controlar ou baixar razoavelmente a pressão arterial elevada dos nossos doentes. É por isso que o tratamento farmacológico tem de ser individualizado. É também por isso que o tratamento é mais eficaz quando o médico conhece bem o doente e quando ambos, médico e doente, percebem a importância de comunicarem, de terem uma boa relação e de se comprometerem e de colaborarem no tratamento.
Não se esqueça: quem melhor conhece a sua doença, quem melhor aponta o que deve fazer é o seu médico. Ele é a sua melhor fonte de informação. Falem, relacionem-se, interatuem e confiem, pela sua Saúde!
(CM)