O município de Castro Marim criou o primeiro Programa Municipal de Combate à Obesidade, para contrariar um dos principais flagelos deste século, promovendo, junto da população, um estilo de vida mais activo, com menos peso e melhor nutrição.
As principais causas de morte em Portugal são os AVC’s, os enfartes e o cancro e Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim, que também é médico, não tem dúvidas em afirmar que o que está por detrás de tudo isto é a obesidade. “A obesidade mata e mata mesmo. Há muitas pessoas que não sabem isso mas a obesidade provoca o cancro e é um factor de risco gravíssimo para os AVC’s e para os enfartes”.
Promover um estilo de vida saudável entre a população tem sido uma das prioridade da Câmara de Castro Marim e, no caso da obesidade, a preocupação da autarquia deve-se à falta de resposta efectiva do Sistema Nacional de Saúde. “Experimente marcar uma consulta de obesidade no Hospital de Faro. Vai ao médico de família e ele encaminha para uma consulta de obesidade que demora um ano para conseguir. Chega à consulta de obesidade e o médico dessa consulta envia o paciente para a psicologia, para a nutrição e para a cirurgia. Mais um ano para cada uma delas. Isto funciona? A pessoa está motivada para perder peso agora, daqui a dois anos não se sabe se essa motivação está igual”.
Programa é pioneiro e engloba diferentes abordagens técnicas
O Programa de Combate à Obesidade é promovido desde Setembro de 2016 e, de acordo com os dados que o presidente revelou ao POSTAL, “já temos à volta de 140 pessoas inscritas a perder peso”. A iniciativa está integrada nas políticas sociais e de saúde da autarquia e visa combater a obesidade, responsável pela diminuição da qualidade de vida e pela morte prematura da população mundial.
Francisco Amaral reuniu-se com profissionais da saúde e do desporto e com a direcção do Centro de Saúde de Castro Marim com o objectivo de criar um programa eficaz, com base nos recursos existentes no concelho. “A Câmara de Castro Marim contratou uma psicóloga (Ana Calvinho), uma nutricionista (Joana Faria) e tem quatro bons técnicos de desporto (liderados por Jorge Neves)”, que trabalham as diferentes abordagens técnicas do programa, de forma articulada com o centro de saúde local.
A obesidade é uma doença que dá má qualidade de vida e a decisão de perder peso é íntima e pessoal, podendo levar anos a ser tomada. “Quantas vezes nos apetece um bolinho?” É necessário ter força de vontade e quando a decisão é finalmente tomada, o Estado deve ter uma resposta útil e rápida, o que não acontece actualmente. “Uma das vantagens deste programa é exactamente essa: disponibilidade permanente”.
Seres humanos são formatados para viver até aos 120 anos
Francisco Amaral contou ao POSTAL que esteve recentemente num congresso médico, onde os dois medicamentos mais falados foram o exercício físico e a dieta alimentar. “Não se fala em mais nada, já toda a gente viu o filme”.
De acordo com o médico, os seres humanos são formatados para viver geneticamente até aos 120 anos e é devido ao estilo de vida que levamos e “às asneiras que fazemos”, que vamos ficando pelos 70 ou 80 anos. “Que obeso chega aos 90 anos? Há sempre uma excepção à regra mas duvido que algum obeso chegue aos 90 anos”.
O autarca acredita que “as pessoas se preocupam com muita coisa mas não com o essencial da questão. A qualidade de vida da população é muito importante para mim e não tenho qualquer dúvida que com este programa estou a contribuir decisivamente para a longevidade média deste concelho”.
O programa criado para Castro Marim já mostra resultados positivos e a mentalidade das pessoas já começou a mudar e já é habitual ver os munícipes passear nas avenidas, frequentar os programas, e a praticar exercício físico, fitness e zumba. “As pessoas estão motivadas e ainda bem que isso acontece”.
Há alguns anos, os enfartes eram mais frequentes na classe média alta que tinha mais fartura em comida e bebida, hoje em dia, acontecem mais frequentemente na classe média baixa onde as pessoas estão menos informadas.
A população está mais sensível, alertada e mais consciente desta problemática. O médico garante que o necessário é educar o organismo, porque “depois há uma habituação tal que é o próprio organismo a pedir o exercício”.
Programa de combate ao tabagismo foi a primeira campanha criada na autarquia de Castro Marim
O autarca mais antigo do país tem vindo a criar uma série de medidas pioneiras na área da Acção Social e Saúde e a primeira dessas campanhas a ser introduzida por Francisco Amaral, depois de assumir a presidência da Câmara de Castro Marim, foi o programa de luta contra o tabagismo. Para o autarca, “ninguém encara o tabagismo como uma toxicodependência e, como toxicodependência que é, para a vencer tem que haver uma grande motivação pessoal e um grande apoio do Estado. Neste caso, trata-se do Estado local, a Câmara Municipal”.
Nestes dois programas, parte da vontade da pessoa querer ou não mudar, “é a pessoa que decide e com alguma medicação, com apoio psicológico, com a informação toda, porque eu esclareço tudo e ponho as cartas em cima da mesa: isto é assim e é isto que vai ter de fazer se quiser mudar. As pessoas sentem-se mais seguras depois de eu explicar tudo”.
No caso particular do tabagismo o programa é aberto a toda a gente e existem já utentes de outros concelhos, mas têm de pagar a medicação. O Programa de Combate à Obesidade é para a comunidade obesa de Castro Marim.
“Eu tomei medidas inéditas no país que mais tarde foram copiadas por outros municípios”. O autarca garantiu ao POSTAL não ter dúvidas de que daqui a uns anos o programa de combate à obesidade também vai ser copiado por outros municípios, porque agora as pessoas ainda não sabem bem o que é a obesidade.
Os autarcas devem zelar pela qualidade de vida dos munícipes
“Estamos a falar de qualidade de vida, uma preocupação que deve ser de todos os políticos do país, sejam eles centrais, regionais ou locais, a qualidade de vida do seu português”.
As pessoas que deixam de fumar ou que perdem peso são muito mais felizes do que eram, “ficam muito orgulhosas com isso e quando me vêem na rua dizem-me que tudo valeu a pena”.
Francisco Amaral disse ao POSTAL que a sua profissão tem uma grande influência na sua vida política e “nunca soube onde é que acabava a medicina e começava a função política”. O autarca acredita que existe “uma promiscuidade positiva entre as duas áreas” e que as duas se complementam.
Questionado sobre o futuro, o presidente da Câmara de Castro Marim disse ser muito bom se conseguir combater “estes dois flagelos do século XXI”. No entanto, o autarca não se dá por satisfeito e garante que a sua cabeça não pára e está sempre a pensar em novas ideias. “Quando vou aos congressos médicos fico sempre a pensar naquilo que aprendo e em como é que vou pôr isso em prática no meu concelho. Estou sempre a fazer essa ligação”.
(Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire)