A jovem de 24 anos com fibrose quística que partilhou nas redes sociais o medo de morrer com a doença, já recebeu o medicamento inovador mais eficaz na melhoria do prognóstico destes doentes. O acesso ao fármaco, com o nome comercial Kaftrio, foi autorizado na terça-feira pelo Infarmed para dispensa pela equipa médica assistente de Constança Braddell no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Nas redes sociais, Constança diz que este “é um sonho tornado real”.
A acompanhar uma fotografia com o fármaco na mão, a jovem escreve que é “surreal a sensação de ter o milagroso comprimido ‘life changing’ e lembrar-me que há uma semana estava entre a vida e a morte”. Outros três doentes também poderão iniciar já a terapêutica e há ainda mais um caso pendente, todos no Hospital de Santa Maria. Os pedidos de acesso ao medicamento inovador estavam a ser preparados pelos médicos desde o final de fevereiro, ainda antes da mediatização do caso de Constança nas redes sociais. Aliás, os quatro doentes agora com o tratamento autorizado são já o segundo grupo a beneficiar do Kaftrio.
Em todo o país, estavam já em tratamento dez doentes, os primeiros elegíveis para a toma do Kaftrio devido à gravidade do seu estado clínico. Têm todos mais de 12 anos. Dois estão a receber o medicamento no Centro Hospitalar de Lisboa Central (que inclui o Dona Estefânia), dois no Hospital de Santo António (Porto), dois no Hospital de Santa Maria, dois no Hospital de São João (Porto) e dois em Coimbra.
“Imaginei tantas vezes o que sentiria na chegada deste dia e a verdade é que, por mais que tente, não consigo pôr por palavras aquilo que sinto”, diz. “Gratidão profunda é o que sinto. Quero agradecer à minha equipa médica, aos enfermeiros e aos auxiliares que me acompanharam desde o primeiro dia, fazendo um trabalho excelente.” Constança reconhece: “É um orgulho saber que inspirei outros doentes a partilharem as suas histórias. Estamos nisto juntos!”
O Kaftrio tem um custo anual por doente orçado em 270 mil euros, mas, para já, é totalmente gratuito, incluindo para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O medicamento está em avaliação no Infarmed para comparticipação pelo Estado para ser utilizado nos hospitais públicos de referência e o laboratório acedeu, no final de novembro, em participar num Programa de Acesso Precoce (PAP), um procedimento que garante a antecipação sem custos do tratamento a um número limitado de doentes. Começaram por ser dez mas o PAP foi entretanto expandido para mais uma dezena, onde Constança Braddell foi incluída, e poderá vir ainda a abranger mais nove doentes, já identificados pelos médicos especialistas dos cinco centros de referência de fibrose quística no país.
No comentário que publicou agora nas redes sociais, Constança faz uma promessa. “A minha primeira batalha está ganha, mas a luta está longe de acabar. A comunidade de fibrose quística precisa do Kaftrio para sempre e não apenas durante alguns meses. Não pode, nem deve ser, dado exclusivamente a alguém que está a morrer! Juntos iremos lutar até que seja aprovado pelo Infarmed e incluído no SNS.”
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso