As doenças respiratórias não covid-19 mataram 36 pessoas por dia em Portugal em 2019, segundo um relatório divulgado esta segunda-feira pelo Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR), que reforça o impacto das vacinas nestas doenças.
A 14.ª edição deste relatório, que juntou especialistas da área da saúde respiratória em Portugal, lembra que as doenças respiratórias continuam a ser “uma das principais causas de morbilidade e mortalidade”, não só em Portugal como também a nível mundial.
Ainda que a maioria destas doenças possa ser prevenida ou tratada através de intervenções “economicamente acessíveis”, o ONDR explica que “não tem havido uma redução da sua prevalência”.
“Em países com sistemas de saúde robustos, esta falta de resposta sugere que ou os fatores de risco conhecidos não estão a ser adequadamente abordados, ou os recursos dedicados não estão adequados às necessidades”, refere a introdução do relatório hoje apresentado, num texto assinado pela pneumologista Raquel Duarte.
“Desde março de 2020 que toda a atenção se focou na pandemia de covid-19. Esta veio mostrar-nos a importância de um planeamento a longo prazo, um conhecimento das forças e vulnerabilidades dos sistemas de saúde e a necessidade de nos organizarmos de forma a podermos dar resposta às novas ameaças sem descurar as já conhecidas”, acrescenta.
Segundo o ONDR, as doenças respiratórias não covid-19 foram responsáveis por 13.305 óbitos (36 pessoas/dia) e a pneumonia foi a que mais matou, com um total de 5.799 óbitos (16/dia).
Os dados indicam que o cancro do pulmão foi responsável por 4.321 mortes (12/dia) e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) por 2.842 (oito óbitos/dia).
Na informação hoje divulgada o ONDR alerta ainda que, nas últimas décadas, há uma tendência crescente da mortalidade devida ao tumor maligno da traqueia, brônquios e pulmão, e que nos Cuidados de Saúde Primários, entre 2011 e 2019, o número de utentes com problemas ativos de asma e DPOC aumentou 182% e 152%, respetivamente.
“Em dezembro de 2019, existiam 316.578 e 137.774, respetivamente, doentes com estas duas patologias em acompanhamento nos cuidados de saúde primários”, refere o observatório.
O tabaco continua a ser um fator de risco para esta e outras doenças respiratórias. Em 2017, 17% da população com 15 anos ou mais era fumadora, uma redução de 3% face a 2014. Ainda assim, “é expectável que o número de doentes com DPOC cresça nos próximos anos”, sublinha.
Os dados do observatório indicam ainda um aumento de ex-fumadores, sublinhando que os jovens continuam a iniciar-se nesta dependência: Em 2019, neste grupo populacional, a percentagem de ex-fumadores era de 21,4%.
José Alves, pneumologista e presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, explica que se observou durante os meses de pandemia analisados (março a maio de 2020) “menos internamentos por doenças do aparelho respiratório do que o previsto anteriormente, com uma redução média nacional de 50%”.
“Os ambulatórios tiveram uma redução de 84%. A justificação para esta diminuição não é conhecida, sendo que poderá estar relacionada com um melhor atendimento, a diminuição da poluição sentida, a melhoria da autogestão de doenças crónicas proporcionada por um receio de contrair a covid-19”, afirma.
No entanto, lembra o especialista, “a Ordem dos Médicos revela uma quebra de três milhões de consultas durante o mesmo período”.
O Observatório reforça a importância de se “perceber num curto espaço de tempo se esta diminuição poderá levar a um atraso em diagnósticos ou ao aumento de pessoas com doenças em estado mais avançado”, conclui.
Esta estrutura da Fundação Portuguesa do Pulmão diz ainda que a expectativa de um crescimento dos diagnósticos de DPOC “foi gorada pela pandemia de covid.19”, alertando que o exame diagnóstico (espirometria) “sofreu importantes condicionalismos”.
O relatório hoje divulgado reforça ainda a existência de vacinas contra as doenças respiratórias que “têm um impacto importante na redução da morbimortalidade em Portugal”, destacando as vacinas contra a pneumonia (Streptococcus pneumoniae), gripe (Haemophilus influenzae) e contra a “Bordetella pertussis”, que provoca a tosse convulsa, como as mais relevantes no contexto atual.
A este respeito, a Fundação Portuguesa do Pulmão defende o alargamento da vacinação contra a pneumonia a todos os adultos acima dos 65 anos.