A revista Nature divulgou na semana passada um artigo que incide o efeito da pandemia em quadros neonatais e pré-natais. Os estudos, apesar de serem preliminares, relatam uma preocupação generalizada de vários pediatras, psicólogos e investigadores.
Os bebés que nasceram durante a pandemia, independentemente de as grávidas terem contraído a covid-19, revelaram níveis ligeiramente baixos de desenvolvimento em termos de habilidades sociais e motoras, quando comparados com os níveis dos bebés pré-pandemia. O resultado é apresentado pela pediatra Dani Dumitriu, do Hospital Infantil Morgan Stanley, em Nova Iorque.
QUEBRA DE INTERAÇÕES SOCIAIS E DESENVOLVIMENTO NEUROLÓGICO
Outro motivo que poderá estar na origem do atrasos sociais e motores será a quebra de interações, verificada na pandemia. Os confinamentos foram ambientes propícios para essa falha e os pais também não conseguiram dedicar o tempo necessário às crianças.
O biofísico médico, Sean Deoni, analisou o desenvolvimento neurológico de bebés em pré-pandemia e durante a pandemia. Para traçar os resultados deste estudo, o biofísico recorreu à análise de ressonâncias magnéticas e determinou que os bebés, nos últimos dois anos, foram fortemente afetados pela pandemia.
As mudanças cerebrais ocorrem mesmo antes do bebé nascer, sendo impulsionadas pelo stress pré-natal, aponta Deoni, cujas alterações se poderão prolongar com a falta de interações sociais.
Catherine Lebel, psicóloga que dirige o Laboratório de Neuroimagem do Desenvolvimento da Universidade de Calgary, no Canadá, e os colegas entrevistaram mais de 8.000 grávidas durante a pandemia. Quase metade relatou sintomas de ansiedade, enquanto um terço apresentou sintomas de depressão – uma percentagem muito maior do que nos anos pré-pandemia.
Num outro estudo, Label e a sua equipa fizeram ligação entre a depressão pré-natal e as diferenças de conetividade cerebral e sugeriram que, em rapazes, essas alterações correlacionam-se com comportamento agressivo e hiperativo na idade pré-escolar.
SERÁ A MÁSCARA UM FATOR?
O psicólogo da Universidade de Massachussets Boston, Edward Tronick efetuou alguns testes para perceber o efeito do uso de máscaras nos bebés. Concluiu-se que quando os pais colocavam a máscara, os bebés continuavam a interagir, portanto não interferiu com a perceção emocional ou de linguagem.
As crianças “compensam os déficits de informação mais facilmente do que pensamos”, disse o principal autor do estudo, Leher Singh, psicólogo da Universidade Nacional de Singapura.
ATRASOS NÃO SÃO IRREVERSÍVEIS
Alguns investigadores propõem que muitas crianças que ficam para trás no desenvolvimento serão capazes de recuperar esses atrasos mentais e físicos.
“As crianças são um fruto do seu ambiente”, diz Sean Deoni. “Quanto mais pudermos estimulá-los, brincar com eles, ler e amá-los”.
Os pais podem ajudar a progredir as crianças brincando e conversando regularmente e dando-lhes oportunidades de brincar com outras crianças em ambientes seguros.
Os investigadores defendem intervenções, quer médicas ou sociais, que apoiem as famílias imediatamente após o nascimento.
A pesquisa de Provenzi constatou que as pessoas que acabaram de dar à luz e foram visitadas em casa por enfermeiras e neonatologistas experimentaram menos stress e ansiedade do que aquelas que não receberam essas visitas.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL