Comer peixe em conserva é um hábito generalizado no nosso país, especialmente atum enlatado. Nos últimos tempos, várias publicações partilhadas nas redes sociais defendem que o atum em óleo é mais saudável do que quando consumido em água. A razão prende-se com a ingestão de metais pesados. Será mesmo assim? Uma nutricionista respondeu a esta e outras questões.
Uma dessas publicações defende que quando o atum é consumido em água, “alguns metais pesados ficam retidos na gordura do peixe”, o que faz com que a pessoa ingira “parte dessas substâncias”.
Segundo outra publicação, o mesmo não acontece com o óleo, “como esses metais são lipofílicos, ou seja, possuem afinidade por gordura, eles são atraídos para o óleo da conserva do atum e, por isso, reduz a contaminação no próprio peixe”. Alega-se também que apesar de o atum em óleo possuir mais calorias, tem mais ómega-3 e vitamina D. Será isto tudo verdade?
Para Rita Sousa Santos, nutricionista e professora no Instituto Universitário de Ciências da Saúde (IUCS) da CESPU, a resposta é não.
A nutricionista explica ao Viral que “do ponto de vista nutricional, o atum em óleo vegetal ou em azeite tem maior quantidade de gordura em comparação com o ao natural, tendo por isso também um maior valor energético associado. Em casos em que poderá ser necessário um controlo da ingestão de gordura, nomeadamente em casos de restrição energética. O atum ao natural poderá ser uma melhor opção”.
Óleo impede a passagem de metais pesados para o atum?
“O meio de conserva em si não tem influência no teor de metilmercúrio presente no peixe. O metilmercúrio deriva da alimentação do animal e é acumulado no seu tecido muscular. Por isso, espécies que se encontram numa hierarquia mais alta da cadeia alimentar apresentam maior quantidade destes metais pesados”, explica.
Quanto aos enlatados, a nutricionista refere que, “o seu processamento e conservação (no caso do atum existe uma pré-confeção) impedem a oxidação desses ácidos gordos”.
É necessário levar em consideração, por outro lado, que o atum enlatado “pode ser constituído por uma ou várias espécies misturadas”.
A nutricionista explica que “o atum gaiado (ou bonito) é um tipo mais pequeno, por isso, é um alimento que apresenta menor teor de metais pesados. É mais seguro do ponto de vista do seu consumo”. A questão é que muitas vezes “a espécie não se encontra descrita na embalagem”.
Falando agora do metilmercúrio. Segundo a nutricionista, “é altamente tóxico, nomeadamente para o sistema nervoso, e acredita-se que o cérebro em desenvolvimento seja o órgão-alvo mais sensível à toxicidade”.
É por ser extremamente nocivo que a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) definiu como limite máximo tolerável de metilmercúrio semanal de 1.3 µg/kg peso corporal.
A melhor opção é em água
“O atum enlatado em água é uma excelente opção do ponto de vista nutricional. Apresenta um baixo teor de gordura e é fonte de ácidos gordos ómega-3 e outros nutrientes importantes como vitamina B12, ferro, iodo e selénio”, refere.
Também não há desvantagens em escorrer o atum em água uma vez que, “a água e o óleo são imiscíveis, pelo que não é possível perder alguma da gordura do atum no processo”.
A nutricionista relembra que, “a maior desvantagem do atum enlatado é o seu elevado teor em sal, que diminui se o produto for escorrido”.
Já quanto aos “metais pesados que podem ser encontrados no peixe dependem essencialmente da espécie escolhida”, salienta.
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