Andava eu a deambular pelo campo quando encontrei uma clareira onde se ouvia as vozes de muitos animais, os quais emanavam um perfume que só os animais poderosos conseguem exalar. Estavam lá muitas espécies de animais todos bem nutridos, simpáticos e bem-falantes. Também havia alguns carnívoros que os outros tentavam não ofender.
As diferentes espécies estavam estratificadas tanto dentro de cada uma delas como entre si. Sentei-me comodamente numa pedra à beira do paraíso plantada. Entrei com descrição para não perturbar o ambiente, a fim de que os animais continuassem a sua tertúlia como se eu ali não estivesse.
Comecei a dar atenção ao que cada um dizia. Um pardal, desde o seu pequeno poleiro, afirmou para os presentes que cada um tem o seu lugar na floresta, as formigas devem continuar a revoltar a terra para a fertilizar e para construírem os seus ninhos, tal como os abutres devem continuar a limpar os arredores. Uma cigarra com uma voz potente, acabada de sair de uma opereta, cantava uma canção intitulada “trabalhem malandros”. Uma arara que estava pousada junto a uma amiga, num poleiro mais acima, inquiriu a outra sobre o que fazia naquela árvore tão grande, ao que a outra respondeu que nos intervalos das refeições via o canal dos palhaços animados na televisão, ao que se seguiu um coro de comentários para todos os gostos, até que um carnívoro presente comentou sobre as qualidades de representação e obediência dos palhaços ao mais alto nível.
Como sabemos, os animais da mesma espécie a viverem na mesma manada, têm uma hierarquia cegamente respeitada. Um velho lobo, que por ali passava, botou sua sabedoria, ao mesmo tempo que mostrava o seu carrete quebra-ossos, dizendo que na sua parte da floresta era ele que dominava muito embora houvesse outros que também uivassem, e que se alguns desobedecessem pediria ajuda a um leão vindo de outra região, seguiu-se um silêncio pestilento.
A certa altura pensei levantar-me, contudo comecei a ver muitos roedores a movimentarem-se, quis ver como acabava aquela cena, mas ao aproximar-se uma águia cada roedor fugiu por um lado. Nesse momento lembrei-me de um texto sobre a valentia dos fanfarrões.
Um bando de melros que por ali andavam a imitar o cântico de outras aves canoras, também botaram a sua opinião dizendo que os pardais e outros animais menores não podiam comer tanto porque a comida escasseava. A opinião foi fortemente aplaudida por outros animais de maior porte.
Estava eu a pensar regressar e eis que surgiu um enorme bando de formiga-de-asa, que por terem asas conseguem chegar mais longe, assim que foram pressentidas e apesar de serem animais pequenos, o seu número assustou todos os animais predadores, os quais abandonaram a tertúlia ficando aquela clareira deserta de animais e ao mesmo tempo voltaram os aromas do ar livre.