“A Câmara de Castro Marim está bloqueada” afirma Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim, e “o que está na génese disto tudo é um claro acordo entre o PS e o movimento Castro Marim Primeiro (CM1)”. O chumbo do orçamento é, para o autarca, “mau demais para ser verdade e só revela muita inconsciência, muita irresponsabilidade e até um certo espírito maquiavélico”.
O orçamento da Câmara para o ano de 2018 foi chumbado na passada segunda-feira, 18 de Dezembro, em reunião de Câmara, pelos dois vereadores do PS, Célia Brito e Mário Dias, e pelo vereador do CM1, José Estevens, segundo os quais houve um atraso no envio do documento e uma consequente falta de tempo para o analisar.
Francisco Amaral e a vice-presidente, Filomena Sintra, convocaram ontem, 19 de Dezembro, uma conferência de imprensa onde discordaram desta justificação dos vereadores. De acordo com o autarca, “estamos a preparar o orçamento há mais de um mês e há mais de um mês que solicitámos os contributos da oposição para a elaboração desse orçamento, contributos esses que foram nulos. Convidámos também os vereadores da oposição para se sentarem à mesa connosco para elaborar o orçamento e mais uma vez recusaram. Mais tarde enviámos ainda o esboço do orçamento para que os vereadores da oposição se pronunciassem e fizessem as suas análises e também recusaram”.
Presidente considera que há uma asfixia administrativa no município
Para Francisco Amaral, o resultado das eleições do dia 1 de Outubro demonstra bem a intenção dos castromarinenses: “querem que seja eu o presidente de Câmara e que me entenda com a oposição. Foi precisamente isso que fiz. Depois de ter ganho as eleições, e porque estou preocupado com a governabilidade do município, convidei a líder do PS, Célia Brito, para ser vereadora a tempo inteiro mas a senhora não aceitou. Mais tarde convidei também o número dois do PS, o engenheiro Mário Dias, que também não aceitou”.
O autarca considera que houve um esforço da sua parte para tornar o município governável mas esse esforço não foi aceite pela oposição. Quando se iniciaram as reuniões de Câmara “reparou-se logo que havia um entendimento entre o PS e o CM1. A maior parte das minhas competências foram-me retiradas, agora não tenho competências para licenciar um simples baile ou uma simples prova desportiva. Tudo, mas tudo mesmo, tem que ir à reunião de Câmara e tudo tem de ser transformado numa proposta para ser discutido e votado em reunião de Câmara”. Os serviços administrativos do município estão a ficar bloqueados, revela Francisco Amaral, porque “não fazem outra coisa senão preparar reuniões de Câmara, que eram quinzenais e passaram a ser semanais, e que antes demoravam entre 15 a 20 minutos e agora estão a demorar cerca de cinco a seis horas. Os funcionários estão esgotados”.
Morreu o sonho da praia fluvial de Odeleite
A acrescentar “à desgraça toda” foi também reprovada a adjudicação definitiva da praia fluvial de Odeleite, “um sonho daquela população e do executivo que agora morreu”.
À semelhança daquilo que aconteceu em Alcoutim com a construção da praia fluvial, que hoje em dia é a principal atracção turística e leva milhares de pessoas ao concelho, Francisco Amaral tinha os mesmos objectivos para Odeleite. “A Câmara adquiriu o terreno, mandámos fazer o projecto dessa praia, apresentámos uma candidatura a fundos comunitários e tínhamos essas garantias de financiamento. A primeira fase foi adjudicada provisoriamente e depois, na votação definitiva, foi reprovada. Morreu o sonho da praia fluvial de Odeleite que até já tinha alguns privados interessados em investir”.
“Os castromarinenses são os mais prejudicados”, refere Francisco Amaral
“Um disparate” contestado até pela própria população que se mostra revoltada com tudo o que está a acontecer sendo que, para o autarca, “o povo é o mais prejudicado no meio de tudo isto”.
Apesar da instabilidade política que se vive há cerca de três meses em Castro Marim, Francisco Amaral e Filomena Sintra continuam disponíveis para colaborar com a oposição e afirmam não jogar a toalha ao chão em nenhuma circunstância. Para o autarca de Castro Marim “há aqui muita irracionalidade. O PS estava convencidíssimo que ia ganhar as eleições e durante um ano meteram isto na cabeça. Claro que ficaram em estado de choque, a ferida está aberta e por cicatrizar e enquanto não cicatrizar estão de cabeça perdida e a cometer estes disparates todos”.
Francisco Amaral afirma, no entanto, que acredita nas pessoas e no bom senso que vai imperar um dia, “acredito que as chefias que fizeram este complô vão reconhecer que ‘meteram água’. Eu sou o autarca mais antigo do país e tenho muita experiência autárquica. Vou suportar isto tudo e vou vencer a batalha. Os castromarinenses elegeram-se para ser seu presidente durante quatro anos e é esse o meu objectivo”.
(Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire)