Recusa meter-se nas guerras internas do PSD, mas sempre vai dizendo que as escolhas eleitorais não podem ser confundidas com jogos florais. Perspetivas para si, diz-se confiante “ma non troppo”: as escolhas eleitorais não se esgotam nas vitórias ou nas derrotas. No centro das suas preocupações estão a crise provocada pela pandemia no tecido social e empresarial do concelho e os incêndios
P – Quais são as suas expectativas para as próximas eleições autárquicas em Monchique? O que seria para o PS um bom e um mau resultado?
R – Naturalmente que quero e queremos que o PS saia vitorioso nestas autárquicas, mas não é um objetivo para o palmarés partidário; é pela necessidade de dar um novo rumo a Monchique. Um bom resultado para o PS é alcançar a confiança e o mandato democrático para recuperar e valorizar o melhor de nós, Monchique.
Há uma distinção que importa fazer desde logo. As escolhas democráticas, por via do exercício do direito ao voto que elegem as pessoas a quem entregamos um mandato de quatro anos para nos representarem na gestão autárquica, não podem ser confundidas com jogos desportivos ou lúdicos que se esgotam nas vitórias ou nas derrotas. Os resultados eleitorais têm uma importância acrescida, pois não se ficam pelos votos conseguidos, mas sim traduzem-se nas consequências das opções e dos atos durante o mandato.
A resolução dos problemas não pode continuar a ser adiada e as oportunidades não podem continuar a ser perdidas
P – Que avaliação faz dos 12 anos de gestão social-democrata à frente dos destinos da Câmara de Monchique?
R – A avaliação sobre os três mandatos em que o PSD esteve à frente da Câmara de Monchique será feita pelos eleitores nas eleições do próximo dia 26 de setembro.
Foram precisamente as opções e a ação (ou a falta dela) do PSD que me fizeram aceitar o desafio de liderar um projeto diferente no qual se cuide daquilo que herdámos do passado, sejam equipamentos ou infraestruturas, seja o património cultural, e se realizem obras necessárias para colmatar necessidades prementes e desenvolver o concelho.
A resolução dos problemas não pode continuar a ser adiada e as oportunidades não podem continuar a ser perdidas. A mudança é necessária. É essencial mudar de rumo e iniciar um novo ciclo que tenha Monchique como protagonista.
P – Em 2017 foi candidato numa disputa que perdeu e abriu caminho para o terceiro mandato consecutivo de Rui André (PSD). O que acha que terá mudado para convencer os eleitores desta vez a votarem em si?
R – Sempre fui ouvindo que quem pode perder eleições é quem está no poder. Eu não estava nem tão-pouco em atividades ou funções políticas. Recebi o convite do PS para liderar a candidatura à Câmara e, depois de ponderar, aceitei-o porque me sentia incomodado com o estado do concelho.
Praticamente inexperiente e desconhecido das lides político-partidárias, liderei uma equipa e um projeto que recuperou eleitorado, quando todos perderam votos e até o número de eleitores sofreu uma quebra considerável. Tenho o grato privilégio de liderar desde há quatro anos uma equipa unida, coesa e dinâmica.
Os motivos que me fizeram aceitar o desafio e que juntaram os elementos da minha equipa mantêm-se, ou até cresceram. A estes juntam-se os apelos dos cidadãos ao longo destes quatro anos e sobretudo nos últimos meses. São bastantes para sentir que há uma crescente vontade de juntos conseguirmos recuperar Monchique.
O conceito de equipa e o espírito de grupo não se compram, constroem-se com a predisposição de cada um
P – O facto de Rui André não concorrer e de o campo do PSD se apresentar dividido com a candidatura do ainda vereador José Chaparro, a encabeçar a lista do CDS, pode jogar a seu favor?
R – Julgo que não deve o PS nem o seu candidato imiscuir-se nos problemas internos do PSD.
O surgimento de outras candidaturas com dissidentes do PSD pode traduzir a degradação daquele ambiente interno. É crucial que partidos políticos que ajudaram a construir a democracia resolvam os seus problemas na perspetiva de, querendo, contribuir para a discussão política assertiva, baseada no respeito e sã convivência e, sobretudo, para evitar efeitos negativos para o território e para as pessoas.
O conceito de equipa e o espírito de grupo não se compram, constroem-se com a predisposição de cada um. O PS está unido e preparado para implementar uma forma diferente de fazer política, para as pessoas e com as pessoas.
P – Em que é que Monchique mudará nos próximos anos se o PS ganhar as eleições? Quais são as suas aposta e investimentos prioritários?
R – Monchique e as suas gentes serão os protagonistas principais.
Habitação, recuperação do parque escolar, equipamentos e edifícios municipais potenciando-os e dotando-os de condições que promovam a sua eficiência energética. Avaliar e intervir nas vias de comunicação. Dar atenção aos pormenores e detalhes que mostram o que temos de único e genuíno. São alguns exemplos aos quais se acrescentarão outros que brevemente teremos o gosto de partilhar com todos(as) monchiquenses, considerando as suas sugestões e contribuições.
Priorizar as nossas vontades face à realidade que vamos encontrar será um desafio para o qual consideramos estar preparados.
P – Está certamente preocupado com os efeitos económicos e sociais da pandemia. Em que medida a economia do concelho se ressentiu desta crise?
R – Em março de 2020 dirigi um e-mail ao presidente da Câmara, considerando que estávamos perante um dos maiores desafios para a nossa sociedade, colocando-me ao lado das soluções que ajudassem a minimizar os efeitos desta terrível pandemia junto das pessoas e das empresas.
Naturalmente que a economia do concelho se ressentiu.
Ainda com feridas por sarar do incêndio de 2018, eis que somos confrontados em 2020 com uma pandemia que obriga ao fecho de portas de negócios que alimentam famílias que confina novos e velhos com todas as implicações inerentes. O Governo atuou com diversas medidas conhecidas e a Câmara Municipal também, com os vereadores do PS, como referi anteriormente, ao lado das soluções.
A preocupação mantém-se e merecerá da nossa parte o devido acompanhamento e atenção, quer do ponto de vista sanitário, quer do económico.
Gravidade dos incêndios tem aumentado
P – A floresta constitui uma das principais, senão a principal, fonte de rendimentos de Monchique, que quase todos os anos é vítima dos incêndios. Apesar de ser um tema recorrente, poucos avanços, ao que sei, são conhecidos. Na sua opinião, o que que é que terá de mudar na política e na relação das pessoas com a floresta para que os riscos desse flagelo seja reduzido ao mínimo?
R – Temos um território vasto, com densidade populacional reduzida maioritariamente ocupado por floresta. Sempre existiram incêndios, no entanto a sua gravidade tem aumentado. As alterações climáticas e ordenamento são duas das principais razões.
A sua preservação e ordenamento serão da maior importância para o futuro do concelho. Gera receita, cria postos de trabalho, atrai turismo, preserva a biodiversidade, sequestra carbono, etc.
O plano de reordenamento da paisagem das serras de Monchique e Silves revela alguma esperança de que estejamos num ponto de viragem no ordenamento florestal existente, na remuneração dos ecossistemas e na valorização deste bem precioso para Monchique, para a região e para o país. Convém que seja entendível e divulgado por todos.
A humanização do território de forma sustentável e respeitadora do meio ambiente tem que ser assumida e promovida, combatendo o despovoamento e o abandono agrícola e florestal.
P – Outra questão estrutural do país é a desertificação humana do interior. Como pode Monchique escapar e inverter esta situação de litoralização do chamado desenvolvimento?
R – Aqui, como em muitos aspetos, a articulação entre o poder central e local é de extrema importância na criação de políticas de diferenciação positiva que contribuam para a coesão territorial.
Temos riquezas fabulosas, como a água (corrente, mineral e termal), floresta, paisagens, gastronomia e tradições seculares, etc.
A cobertura digital do território, deslocalização de serviços públicos, melhoria das vias de comunicação, acesso à educação em situação de igualdade, cuidados médicos de proximidade, incentivos à fixação de profissionais de saúde, são exemplos de medidas importantes.
Temos que apostar no que nos distingue, não deixando de procurar a complementaridade com os concelhos vizinhos e com a Região.
Monchique tem imenso potencial e nós vamos conseguir evidenciá-lo e projetá-lo.