José Carlos Rolo, do PSD, e Ricardo Clemente, do PS, são os entrevistados do POSTAL. No âmbito das eleições autárquicas temos vindo a recolher a opinião de alguns candidatos aos municípios, onde, na nossa opinião, existem mais fortes possibilidades de mudança. Importa referir que, para Albufeira, um dos mais importantes concelhos algarvios, já tínhamos recolhido a opinião do antigo presidente Desidério Silva, que agora se apresenta como independente.
Número utilizado para o cálculo é menos de metade dos residentes
Diz-se com energia e ideias para o futuro, mas recusa apresentar-se como vendedor de ilusões. José Carlos Rolo considera-se o mais bem preparado dos candidatos para voltar a liderar o município e faz um balanço positivo em ano marcado pela pandemia. Pede tratamento igual nos critérios de avaliação da covid-19, para que Albufeira não continue a ser penalizada injustamente.
P – Vai concorrer pela primeira vez como candidato à presidência da Câmara de Albufeira, depois de ter herdado o cargo do presidente eleito, Carlos Silva e Sousa, falecido em fevereiro de 2018. Está preparado para o desafio ou sente o peso dessa responsabilidade eleitoralmente falando?
R – Naturalmente que estou preparado para o desafio para estar mais quatro anos à frente dos destinos do Município. Aliás, julgo que poucos estarão em condições de gerir um Município como Albufeira, que tendo uma população residente de cerca de 42.000 pessoas, como capital do turismo português, muda para mais de 400.000 pessoas presentes no território em simultâneo. Isto acontece evidentemente num ano normal, como foi em 2019, normalidade que esperamos e estamos a fazer os impossíveis para que regresse muito em breve.
Tenho total consciência da responsabilidade enorme e permanente do cargo, sobretudo neste momento crítico, mas ao longo da minha vida sempre enfrentei todos os desafios de frente e com coragem. Nos mais de 40 anos de vida pública sempre desempenhei cargos de alta responsabilidade e de entrega à causa pública, incluindo a tão nobre missão da Educação, que me encheu a alma de alegria por ter podido contribuir para a formação de imensos jovens deste concelho.
P – Em termos de objetivos quais são as suas expetativas?
R – Os objetivos que se pretendem para Albufeira são elevados. Infelizmente, com o meu conhecimento da realidade, importa saber decidir bem o que é viável e o que não é, para não criar qualquer expetativa falsa às pessoas que confiam em mim. Mas não posso deixar de ter verdadeira ambição para o futuro de Albufeira. Todos merecemos que depois desta tempestade, venha a bonança.
Para isso, importa o desenvolvimento da sociedade albufeirense ao nível do conhecimento, proporcionando aos agentes económicos técnicos locais cada vez mais qualificados para que possam recriar os seus negócios e enfrentar os novos desafios, que são muitos e se enquadram nas novas perspetivas digitais. Este também é uma aposta fundamental para a redução do desemprego.
No final, é obrigatório satisfazer as necessidades e ansiedades não só dos moradores e residentes permanentes, dos trabalhadores, mas também de todos aqueles que escolhem Albufeira como segunda residência e os que, ano após ano, nos visitam para aqui tentarem férias que se pretende que sejam inesquecíveis.
Albufeira tem de ser criativa, se quer estar à frente do seu tempo. A criatividade, para além de uma fundamental equalização social (ninguém pode ficar à beira da estrada), é uma enorme aposta na estratégia conceptual de uma Albufeira do futuro.
[Covid-19] Peço tratamento igual. Que a justiça seja reposta urgentemente
P – Após 20 anos de gestão PSD na Câmara de Albufeira, ainda restam novas ideias e energias?
R – Tal como acabei de referir, existem não apenas novas ideias, como ideias diferentes, criativas e originais. Muita coisa foi feita, mas muito há ainda a fazer.
Tenho vindo a adiar o lançamento, quer da candidatura, quer do programa, em virtude do estado crítico provado pela pandemia em cuja resolução tenho estado empenhado a 200%.
Mas, debaixo de um conceito global de excelência, temos projetos para o espaço público, para a extensão das ofertas turísticas no território, com forte envolvência da cultura local, para a extensão temporal do turismo em combate direto contra a sazonalidade entre muitos outros que divulgaremos, espero, em breve.
Apostamos no desenvolvimento, defesa e dignificação das pessoas, na sustentabilidade do destino Albufeira e na cultura popular local.
P – Para o futuro nos próximos quatro anos, quais serão as suas apostas e investimentos prioritários se vier a ser eleito?
R – Ao que já referi anteriormente gostava de acrescentar a transformação digital que vai obrigar a literacia tecnológica quer a nível de estruturas, quer ainda a nível de conhecimento. Apostar nas pessoas é fundamental em todos os seus vetores, educativo, cultural e social.
Também a aposta na transição climática e a descarbonização da economia são imprescindíveis para uma sociedade que se pretende mais sustentável, mais equilibrada e mais coesa.
P – De entre as diversas candidaturas no terreno, vai enfrentar o antigo presidente do município, Desidério Silva. Acha que a candidatura do ex-presidente, agora como independente, pode reduzir a sua margem política e prejudicar os seus objetivos?
R – Todas as candidaturas são formalmente legitimas e válidas, cada uma à sua maneira e com os seus argumentos.
Não tenho qualquer comentário a fazer sobre qualquer dos outros candidatos.
A minha candidatura e a respetiva campanha vão ser feitas sempre pela positiva e o meu enfoque está em Albufeira, nos albufeirenses e na melhoria das suas vidas.
Não me candidato pelo poder, mas para poder fazer mais e melhor.
Importa não criar qualquer expetativa falsa às pessoas
P – Albufeira e a pandemia. Que balanço em números pode fazer neste momento?
R – A pandemia tem tido avanços e recuos com um percurso erróneo e nada consistente. A imprevisibilidade do comportamento da evolução do vírus tem sido uma constante.
Ao longo deste ano e meio de pandemia já tomámos imensas medidas, desde o apoio aos empresários em que criámos um fundo, do qual beneficiaram imensas empresas, despendendo cerca de milhão e meio de euros. Apoiámos o comércio local com distribuição de cheques-prenda às crianças, contribuímos para melhorar a faturação dos táxis, que com a colaboração da Albucoop, apoiámos em serviços de takeaway, apoiando simultaneamente a restauração.
Através da ARHESP apoiámos também a restauração com títulos de oferta aos “profissionais da linha da frente” e no “dia da família” distribuímos 2.000 vouchers pelas famílias para serem usados nos restaurantes aderentes, fortalecendo ainda o conceito de família.
Apoiámos as escolas distribuindo cerca de 800 tablets e 110 computadores portáteis para apoio ao ensino à distância.
Apoiámos financeiramente as IPSS do concelho que de uma forma muito eficaz têm distribuído alimentação pelos mais carenciados. Estes foram também apoiados quanto à entrega de medicamentos.
Realizámos inúmeras ações de sensibilização sobre Covid-19, quer nas ruas, quer em sala com empresários, em parceria com os Bombeiros de Albufeira, Cruz Vermelha e GNR, aos quais cabe aqui uma palavra de reconhecimento e apreço pelo trabalho realizado.
Isentámos várias taxas por forma a que particulares e empresas tivessem menos dificuldades para continuarem a cumprir com as suas obrigações e deveres.
Contribuímos fortemente para que os atos médicos tivessem mais sucesso com a aquisição de alguns ventiladores ecógrafos, com a distribuição de máscaras e desinfetantes e com a montagem de instalações dedicadas à Covid-19 que foram colocadas na zona do centro de saúde.
Instalámos o Centro de Vacinação e o Centro de Testagem para que se possa precaver a doença e se tenha diagnósticos de uma forma mais eficaz e coerente.
Depois deste tempo e destes apoios, todos temos a consciência que muito foi feito e seguramente muito mais será necessário realizar.
Com todos os apoios que concedemos e com a quebra de receitas em impostos, nomeadamente o IMT, atingimos mais de 20 milhões de euros de redução orçamental. Acreditamos que foram bem investidos e fundamentais para ajudar os Albufeirenses a ultrapassar este período crítico.
Taxa de incidência de covid-19
P – A Assembleia Municipal de Albufeira pediu a revisão dos critérios para o cálculo da taxa de incidência de covid-19. Acha que pode estar a haver manipulação de dados com fins político-partidários?
R – Sim, a Assembleia Municipal aprovou um documento onde refere a discordância com a fórmula de cálculo. Esta deliberação vem reforçar o que eu próprio referi à Senhora Secretária de Estado do Turismo, demonstrando a enorme injustiça de que somos alvo nesta matéria. Quanto mais turismo temos, em pior situação avaliativa ficamos.
O número utilizado para o cálculo é de 41.920 residentes, enquanto temos em Albufeira cerca de 100.000 pessoas.
Recebi na semana passada a resposta de que já estavam a trabalhar com o Instituto Nacional de Estatística para encontrar uma métrica para tornar mais justo, mais transparente e mais real o indicador.
De notar que situação semelhante de injustiça havia acontecido um mês antes com os concelhos em territórios de baixa densidade e esta veio a ser resolvida rapidamente. Peço tratamento igual. Que a justiça seja reposta urgentemente.