A Assembleia Municipal de Faro aprovou por maioria um voto de protesto pelo facto de a palavra “Faro” deixar de fazer parte na designação oficial do aeroporto, que se vai passar a chamar Gago Coutinho.
“Não é compreensível que, para homenagear um grande vulto nacional, seja necessário despromover a designação Faro”, defende o presidente da Assembleia Municipal de Faro, Cristóvão Norte (PSD), citado em comunicado.
Há uma semana foi aprovado em Conselho de Ministros que o Aeroporto Internacional de Faro vai passar a chamar-se Aeroporto Gago Coutinho em homenagem ao navegador e almirante nascido em São Brás de Alportel, no Algarve.
Na terça-feira, a Assembleia Municipal de Faro aprovou por maioria, apenas com os votos contra do PS, um voto de protesto contra a saída do topónimo “Faro” da designação oficial desta infraestrutura.
Para Cristóvão Norte, esta designação “é de muito mau gosto e não vai no sentido proposto pela Assembleia Municipal de Faro”, há um mês, também para o futuro nome do aeroporto.
O autarca entende que “é possível e desejável que a designação oficial contenha o nome Faro, a par do de Gago Coutinho”, e espera que no diploma definitivo a publicar em Diário da República “se faça a correção daquilo que só pode ser um erro”.
O Governo assinalou na sexta-feira o início do processo que vai levar o Aeroporto de Faro a chamar-se Aeroporto Gago Coutinho, mas avisou que essa mudança de nome pode ainda “levar várias semanas” para ser efetiva.
Em comunicado, o gabinete do Ministério tutelado por Pedro Nuno Santos nota que o início do processo é feito no mesmo dia, 17 de junho (sexta-feira), em que se cumprem 100 anos desde que “o pequeno hidroavião monomotor tripulado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral concluía a primeira travessia Aérea do Atlântico Sul, a partir de Portugal”.
Depois da publicação da resolução do Conselho de Ministros, a ANA Aeroportos – o operador do aeroporto – deverá requerer junto da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) a alteração do nome da infraestrutura, prossegue o comunicado.
Uma vez emitida a autorização do regulador, a ANAC, este comunicará posteriormente à Navegação Aérea (NAV) a alteração do nome, para atualização da informação pública aeronáutica, explica a nota do Ministério.
Segundo o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, André Moz Caldas, em conferência de imprensa, o Governo pretende assim prestar “homenagem ao almirante Gago Coutinho, natural de São Brás de Alportel, no distrito de Faro, quando se assinala o centenário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, uma das maiores proezas da história da navegação aérea”.
A proposta, aprovada em várias assembleias municipais de autarquias do Algarve, surgiu de um movimento de cidadãos que considerava que a estrutura, inaugurada em 1965, deveria ter o nome do almirante.
Em fevereiro de 2020, a Assembleia Municipal de São Brás de Alportel, de onde a família do antigo oficial da Marinha é natural, aprovou por unanimidade uma moção na defesa da atribuição do seu nome ao Aeroporto Internacional de Faro.
A esta moção, dirigida ao primeiro-ministro, ministro das Infraestruturas e da Habitação e ao diretor do Aeroporto de Faro, seguiram-se outras de várias autarquias do Algarve.
Para a travessia, Gago Coutinho e Sacadura Cabral testaram um processo inovador para conhecerem a posição de uma aeronave no alto-mar, baseando-se nas técnicas de navegação astronómica usadas a bordo dos navios.
Para a observação da altura dos astros usaram o sextante, no entanto, para poderem observar os astros em situações em que a linha do horizonte não estivesse visível, Gago Coutinho adaptou um sistema de horizonte artificial a um sextante clássico, aparelho que viria a ser usado para a navegação aérea nas décadas seguintes.
Nascido em 1869, Carlos Viegas Gago Coutinho foi nomeado diretor honorário da Academia Naval portuguesa em 1926, e distinguido como piloto aviador, tendo-se retirado da vida militar em 1939.
Viria a morrer em 1959, tendo ficado conhecido internacionalmente pela primeira travessia aérea do Atlântico Sul, que ligou Lisboa ao Rio de Janeiro, no Brasil.