Num mundo imaginário (?), os intocáveis são como que uma espécie de lagartas espinhosas que têm a capacidade de sugar tudo o que lhes interessa.
Não se pode tentar mexer nesses animais porque erguem todos os seus espinhos e porque têm defensores vesgos que os apoiam, por serem vesgos, pensando que são da mesma espécie.
Se, nesse mundo fantástico, existisse um sistema judicial que obrigasse as lagartas espinhosas a devolverem tudo o que tinham sugado ou repor o que tivessem estragado, é natural que a convivência entre espécies fosse melhor, sem que uma espécie vivesse à custa das outras. Mas o mundo animal é assim, haverá sempre animais parasitas tal como no mundo vegetal há plantas que vivem da seiva de outras.
Por vezes existem discussões entre as lagartas espinhosas e as formigas, umas porque querem sugar e as outras porque labutam toda a vida, as contendas que existem são debeladas pelos bichos vesgos porque, na floresta, põem-se num patamar superior, embora por vezes apareça um ou outro vesgo que parece querer resolver as contendas de forma diferente.
Nas clareiras da floresta surgem-nos regularmente odores pestilentos de uns e perfumes artificiais de outros, mas o nariz de um qualquer transeunte não distingue as diferentes características de cada um e diz que os animais são todos iguais, mas não são, pelo que as lagartas espinhosas vivem misturadamente à parte por sua livre e espontânea vontade há vários séculos.
Nas margens da floresta existe uma espécie de gaiolas de lagartas, mas não cabem todas lá, pelo que as formigas mais robustas têm que procurar outros formigueiros mais longínquos até porque os seus sonhos incomodam os vesgos, por isso não podem expressa-los livremente.
Um dia, um gafanhoto, ouviu o lamento de uma formiga: “é preciso cuidado porque na próxima primavera pode aparecer outra espécie de vesgos.”