A intransigência em aceitar alterar o projecto da nova Ponte vem alimentando perigosamente a onda dos movimentos de protesto. Os argumentos em que tal rigidez se apoia são, em suma, de duas ordens de razões:
Por um lado o facto de a contestação ter “entrado já fora do prazo” e por outro os custos resultantes da alteração do projecto serem insuportáveis para o erário autárquico.
Nada de substantivo no que respeita às questões de fundo é posto em causa, ou seja, a superfluidade de uma terceira ponte daquela envergadura, quando já existem duas a razoável distância para o trânsito rodoviário, os profundos danos que irá causar no Jardim do Coreto (ainda não estudados) provocados pela poluição (sonora e ambiente), na segurança das pessoas e o prejuízo estético com o seu impacto, naquela delicada zona histórica não são no essencial postos em crise.
Sucede porém que os motivos invocados para semelhante intransigência são pobres e falaciosos. Senão vejamos.
Só os mais distraídos ainda não se aperceberam que a actual população de Tavira pouco tem a ver com a de há dez anos, quando o projecto foi apresentado publicamente. A população dominante hoje na Cidade integra as mais diversas nacionalidades, com elevados níveis de literacia, consciência cívica e poder económico, o que lhes permite defender causas de modo firme, hábil e resiliente. A forma eficaz como foi conduzida a luta contra a exploração de petróleo na costa algarvia com larga participação de tavirenses é um bom exemplo. E por só agora, tais gentes tenham podido tomar conhecimento dos malefícios da obra não é aceitável que as reservas apresentadas devam ser ignoradas.
Tavira já viveu outras situações análogas de que recordo a luta pela alteração do traçado da Via do Infante que se propunha destruir as férteis terras do Almargem.
Com as máquinas à porta da cidade a Comissão dos Agricultores do Sotavento Algarvio (C.A.S.A.) da qual participei activamente (tinha menos 20 anos) conseguiu obter a alteração do traçado empurrando a Via para a serra. O então Presidente Fialho Anastácio poderá melhor contar a vitoriosa luta em que se empenhou contra o Poder Central representado pelo então Governador Civil Cabrita Neto. Importa notar que tal alteração implicou novos estudos, pontes e viadutos na Asseca o que foi conseguido sem pôr em causa o prazo para finalização da empreitada.
Irreversível era também o que muitos diziam, a privatização da TAP, que o Governo com imaginação e vontade política reverteu.
Quanto ao eventual agravamento dos encargos, mesmo sendo leigo na matéria, atrevo-me notar que a redução da sua envergadura, da largura do tabuleiro (metade), redução da estrutura/perfil, em suma, irá seguramente reduzir os custos com a sua execução, os materiais, a mão de obra e outros. Sendo certo que os prejuízos materiais, estéticos e de natureza ambiental que resultarão da sua execução serão permanentes e como tal de difícil reparação.
Como recentemente alguém bem disse ao afirmar que respeitava a opinião dos outros, a campanha eleitoral já começou.
O problema da nova Ponte ao não ser rapidamente sanado irá, seguramente, elevar-se a questão central das campanhas eleitorais em prejuízo da discussão dos verdadeiros problemas de Tavira.
Urge assim, no interesse de todos, que se encontre rapidamente uma solução equilibrada, sem vencedores nem vencidos. Um último desabafo, Senhora Presidente em exercício não trague o presente envenenado que herdou. Pare, olhe e escute, pois muitos e sobretudo muitas gostariam de a ver tomar posse como primeira Presidente eleita da Câmara de Tavira, nas próximas autárquicas.
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