A propósito das manifestações de professores ocorridas durante o mês de dezembro e que se avizinham para o mês de janeiro apraz-me dizer o seguinte.
A educação é o bem mais precioso de uma sociedade.
A escola forma o futuro e os alicerces de um país.
O sistema educativo português tem enormes desafios pela frente nos tempos mais próximos.
Existem três setores, o político, o educativo e o filosófico.
A nível político, a profissão foi delapidada nos últimos anos, principalmente com o congelamento das carreiras, ocorrida em 2008.
Quando finalmente se deu o descongelamento, não foram restituídos cerca de 9 anos de carreira aos professores.
Entretanto, foi formado um sistema de avaliação de professores completamente injusto e descabido. Não faz sentido nenhum que existam quotas para passar para o 5º e 7º escalões. Isto foi feito apenas para atrasar a progressão nas carreiras e desta forma o governo poder economizar mais uns milhões à custa dos professores.
Em termos gerais, neste momento cada professor deveria estar a ganhar a mais cerca de 200 euros no seu vencimento.
Resumidamente, os sucessivos governos, 10 anos de PS e 4 anos de PSD, tentaram economizar com a educação, criando uma enorme injustiça e desmotivação na classe profissional docente.
Depois da carreira ter sido alvo de um congelamento e de uma avaliação injusta surge a notícia do governo querer a municipalização da educação.
Ou seja, depois de terem destruído a carreira, querem agora livrar-se dela.
Nos últimos anos tem havido negociações entre o governo e os sindicatos no interesse de ambos e os professores têm ficado cada vez mais prejudicados.
Acontece que daqui a dez anos quase metade dos professores que estão atualmente no ativo, vão-se reformar o que vai criar um enorme problema porque não vão haver professores para fazer face ao sistema.
E aí sim, vamos ter um enorme desafio para superar.
O sistema educativo tal como o conhecemos vai ter que sofrer profundas alterações.
E aí sim, vamos poder assistir os governos criaram regalias para a profissão para atraírem pessoas para se tornarem professores.
A nível educativo, as escolas são hoje em dia completamente diferentes do que eram nos anos 80 do século passado.
A escolaridade obrigatória passou do 4º para o 6º ano, depois para o 9º e finalmente para o 12º ano. Ou seja, estão todas as crianças e adolescentes até aos 18 anos no sistema, os que têm dificuldades, os que estão desmotivados e os que são mal comportados.
Hoje em dia na sociedade cada criança é um mundo complexo e na escola muitas turmas têm vinte e tal alunos.
Os professores não têm mãos a medir com as medidas adicionais ou adaptações para cada aluno, com as estratégias de superação das aprendizagens, com estratégias psicológicas para lidar com certos alunos e com a quantidade de documentos que necessitam de preencher e que só retiram tempo para aquilo que realmente interessa que é a planificação das aulas.
Comparando as profissões seria a mesma coisa que um médico atender vinte e tal doentes ao mesmo tempo, um pedreiro fazer vinte e tal casas ao mesmo tempo ou alguém estar a atender vinte e tal pessoas ao mesmo tempo.
Não tenho dúvidas nenhumas que hoje em dia a profissão de professor é de longe a mais desgastante de todas, ainda por cima um professor chega a casa e não pode descansar, tem que preparar o dia seguinte, tem que planificar as aulas, os dias e as semanas.
E isso é outro desafio enorme para resolver, os professores estão completamente desgastados e cansados a todos os níveis.
A nível filosófico, ou seja, no pensar de um sistema que sirva os interesses dos professores, dos alunos e consequentemente da sociedade temos também um enorme desafio pela frente.
Existem algumas medidas que poderão ser alvo de uma profunda reflexão e escrutínio por parte da classe docente e da sociedade.
A primeira tem haver com a injustiça dos professores do 1º ciclo terem uma carga horária superior aos professores dos restantes ciclos.
Uma medida que deverá ser pensada é o 1º ciclo estar organizado como o 2º, 3º ciclo e secundário, ou seja, deixa de existir a monodocência e cada professor dá a sua disciplina.
Outra questão prende-se com a componente letiva semanal de cada professor, que deverá ser no máximo de 16 horas.
A componente letiva dos alunos não deverá ser superior a 20 horas semanais, o que implica que os currículos de cada disciplina sejam revistos.
Também é muito importante sempre que seja possível estarem dois professores com a turma.
As aulas devem ter lugar apenas de manhã, das 9 às 13, 4 horas diárias. Da parte da tarde, das 14 às 17 horas, as escolas devem ter ofertas educativas e formativas muito variadas e que sirvam os interesses dos alunos e o futuro da sociedade. Deverão existir clubes de teatro, de cinema, de televisão, de rádio, grupos de estudo, de leitura, de escrita, tertúlias de política, tertúlias de arte, aprendizagem de instrumentos musicais, grupos de dança, torneios desportivos de todas as modalidades e aprendizagem de áreas do interesse dos alunos.
Isto tudo por uma maior exigência no sistema, por uma melhor qualidade do ensino e por um futuro melhor para a sociedade portuguesa.
É premente pensar um novo modelo escolar em que as palavras chave sejam exigência, aprendizagem, motivação e cultura.