Desde o momento em que acordamos até ao último suspiro antes de fechar os olhos à noite, somos dominados por uma sensação persistente de urgência. Olhamos para o relógio com uma frequência inquietante, como se cada segundo perdido fosse irreversível. Mas, será que estamos realmente a correr contra o tempo ou é o tempo que corre à nossa frente, inatingível, deixando-nos numa perseguição constante, uma corrida na qual nunca ganhamos?
A vida moderna exacerbou essa sensação. Estamos sempre ocupados, com listas de tarefas intermináveis, compromissos para honrar, objetivos a atingir. O tempo parece fugir-nos por entre os dedos, como areia escorrendo numa ampulheta, e quanto mais tentamos agarrá-lo, mais ele parece acelerar. Perguntamo-nos se algum dia conseguiremos ter “tempo” para tudo — para os projetos, para os sonhos, para as pessoas que amamos. Talvez a maior ironia seja que, enquanto corremos para agarrar o tempo, muitas vezes não percebemos que estamos a deixar escapar o presente.
Talvez, no fundo, o tempo esteja apenas a seguir o seu curso, e nós, na nossa pressa de o alcançar, estejamos a perder a verdadeira essência da vida
E se, em vez de corrermos atrás do tempo, permitíssemos que ele fluísse com mais leveza? E se aceitássemos que o tempo, por mais limitado que seja, tem um ritmo próprio que não precisa de ser domado, mas sim respeitado? A verdade é que o tempo é a única constante nas nossas vidas. Ele nunca para, nunca abranda, mas também nunca acelera. Nós é que criamos essa ilusão de velocidade, essa pressa incontrolável.
Vivemos na era do “fazer mais em menos tempo”, onde produtividade e eficiência são glorificadas. Medimos o nosso valor pelo que conseguimos realizar num determinado período. Mas, será que nos damos conta de que, nessa corrida desenfreada, estamos a deixar de viver? Estamos a perder os pequenos momentos, as pausas significativas que nos permitem sentir, refletir e estar presentes. O almoço com um amigo, uma caminhada ao pôr-do-sol, o silêncio de um fim de tarde — todos esses momentos são as verdadeiras riquezas que o tempo nos oferece, mas que, muitas vezes, deixamos passar.
Há quem diga que o tempo cura tudo. Mas o tempo, por si só, não faz nada. Ele apenas passa. Somos nós que devemos aprender a curar, a cuidar, a amar no tempo que nos é dado. Porque a vida, afinal, não é uma linha reta em direção ao futuro, mas uma série de instantes interligados. Talvez a grande sabedoria seja aprender a correr menos e a apreciar mais. A desacelerar, não por preguiça ou desinteresse, mas para conseguir sentir o pulsar da vida em cada segundo.
No fim de tudo, quem corre atrás de quem? Talvez a resposta não seja tão simples. Talvez, no fundo, o tempo esteja apenas a seguir o seu curso, e nós, na nossa pressa de o alcançar, estejamos a perder a verdadeira essência da vida. Talvez seja hora de deixar de correr e aprender a caminhar ao lado do tempo, aproveitando cada passo, cada respiração, cada batida do coração.
O tempo pode não esperar por ninguém, mas nós também não precisamos de viver numa constante perseguição. Afinal, a vida não é uma corrida. Ela é um caminho que devemos percorrer com calma, atenção e gratidão.
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