– A sério que não conheces?
– Não, estou a dizer-te que nunca ouvi falar em tal marca!
– Mas como é que é possível que não conheças a Off White?
O espanto dela, em alta voz, soava quase tão intenso como a minha silenciosa pergunta: “Mas quem é que quer saber de marcas caras? Quem? E porquê?”
O João, ao meu lado no carro, pesquisou no Google e foi-me mencionando os exorbitantes preços das roupitas que um qualquer designer de griffe se lembrou de inventar para vender sob a sua própria marca.
O episódio passou mas eu fiquei a pensar no embuste.
Quantos vivem a aspirar ter um qualquer objecto, produzido por cinco e vendido a três mil?
Quantos se endividam por um símbolo na mala, no cinto ou no casaco?
Como é que alguns espertalhões, à conta da fraqueza mental de tantos, conseguem sobrevalorizar tão desmesuradamente objectos cuja beleza é, muitas vezes, tão duvidosa?
E já agora, que prestígio trará a alguém, vestir-se com peças que, de tão conhecidas que são, se tornam sumamente monótonas, replicáveis e dúbias?
Penso que, para andarmos a hastear marcas, nos deveriam pagar. Era o mínimo…
Claro que há excepções, daquelas que não se vestem e cujo ronronar dos motores nos revelam a marca muito antes de olharmos sequer para o objecto… possuir uma dessas legitima-se pela satisfação de introduzirmos na nossa vida um prolongamento exterior do carácter. Por isso este é outro assunto.
Mas quanto a símbolos na roupa creio que, por mais anos que me passem, nunca saberei entender por que é que tanta gente não percebe que uma marca não é o sinónimo da qualidade e carisma do objecto. Ou por que há tantas vítimas de uma falta de gosto endémica e de assaltos que não só lhes defraudam os bolsos como lhes passam atestados de inanimação por gastarem demais para usar algo de que só “gostam” pelo status que pensam ganhar com isso.