De acordo com os últimos estudos da Organização Mundial Saúde ( OMS ) estima-se que atualmente existam em todo o mundo, pelo menos 1,5 biliões de pessoas com algum tipo de perda auditiva e destas aproximadamente, 430 milhões em que a perda auditiva causa um nível de incapacidade significativa. Prevendo-se que em 2050 estes números subam para 2,5 biliões e 700 milhões respetivamente. Este fenómeno provém essencialmente do aumento da longevidade e de uma maior exposição a fatores de risco para o sistema auditivo.
O impacto que a perda auditiva tem na vida de uma pessoa depende essencialmente da idade de instalação, do tipo e do grau da perda e do tempo de privação auditiva. Nos primeiros anos de vida, dificulta a aquisição e desenvolvimento da linguagem falada, com forte impacto no desenvolvimento cognitivo da criança. Mais tarde, interfere drasticamente no rendimento e integração escolar e no seu desenvolvimento psicoemocional. Já quando ocorre na juventude ou idade adulta, causa perturbações no desempenho escolar ou laboral, originando maior fadiga e insegurança na comunicação com os outros, fazendo com que a pessoa sinta ansiedade e evite situações comunicativas e de socialização, tendendo a viver numa “bolha de solidão”.
Este quadro é exponencialmente agravado na pessoa idosa, onde por si só a socialização já se encontra afetada devido á perda de amigos e familiares, levando ainda a um maior isolamento social. Esta redução de estímulos auditivos leva á redução do trabalho cognitivo e á instalação de pensamentos negativos, produzindo com o tempo a degradação da atividade cerebral que contribui para o desenvolvimento de quadros depressivos associados á instalação ou agravamento de vários tipos de demência com forte impacto socioeconómico nos sistemas de saúde e de apoio social e na qualidade de vida desta população.
Causas, sinais e prevenção da perda auditiva
Podemos dizer que a prevenção da perda auditiva na criança deve começar mesmo antes da gravidez, com o estudo genético dos candidatos a pais, sempre que hajam casos de surdez na família. A gravidez vigiada com controlo de fatores de risco, como os marcadores víricos ou a abstinência de medicamentos e substâncias Ototóxicas pode evitar alguns casos de surdez congénita. O parto e as primeiras semanas vida podem acarretar riscos para a audição, como é o caso da Anoxia neonatal, Hiperbilirrubinemia; Traumatismos, infeções pós-parto e prematuridade. Daí a importância de desde a nascença se efetuar o Rastreio Auditivo Neonatal, bem como a monitorização e acompanhamento dos casos de risco. Mais tarde é importante o acompanhamento médico, em especial, nas infeções respiratórias e do ouvido, tão comuns nestas idades. Também é de extrema importância a vigilância dos pais/cuidadores no que concerne a sinais da existência de uma possível perda auditiva, tais como: – ausência de reação a sons fortes ou chamamento e atraso no desenvolvimento da linguagem falada. Quando já frequenta o infantário ou escola, além dos pais também os educadores/professores devem estar vigilantes em relação a sinais como, a falta de atenção frequente ou situações de baixo rendimento escolar. Na presença destes sinais devem referenciar para um médico Otorrinolaringologista ou um Audiologista no sentido de avaliar se existe ou não perda auditiva e de serem tomadas as devidas medidas corretivas.
Nos jovens e adultos, além das infeções atrás mencionadas, são fatores de risco, o uso e abuso de fones para ouvir música, geralmente em intensidades elevadas e por longos períodos tempo, a permanência em locais ruidosos por motivos lúdicos, ruído ambiente, ruído rodoviário, a prática de desportos motorizados, tiro e ainda o ambiente laboral ruidoso sem proteção, bem como a associação destes fatores com o consumo de substância ototóxicas ( álcool, drogas, etc ). De referir que o efeito do ruido não tem impacto só no sistema auditivo, mas também ao nível cardiovascular e na qualidade do sono. Na pessoa idosa além do seu passado enquanto criança, jovem e adulto, a degeneração do sistema auditivo – designada de Presbiacusia – que se começa a fazer sentir normalmente acima dos 50 anos, bem como a toma de múltiplos medicamentos, por vezes com efeito ototóxico, o Colesterol, a Diabetes e as alterações vasculares são os principais fatores de risco. Daí que a prevenção no adulto passa por evitar ambientes ruidosos, usar protetores ruído quando necessário, a abstinência ou consumo moderado de substâncias ototóxicas, controlo médico dos fatores risco e efetuar uma alimentação e estilo de vida saudáveis. Além disso devem estar atentos a sinais de perda auditiva, como:
- Necessidade de fazer esforço para ouvir ou perceber
- Pedir com frequência para repetirem
- Dificuldade em manter conversas em locais ruidosos.
- Ter dificuldade em perceber quando fala ao telefone.
- Ter necessidade de aumentar o som da TV ou Rádio para ouvir ou perceber, comparativamente com as outras pessoas.
- falar muito alto, segundo opinião dos outros
- Sentir a sensação de ouvido tampado ou ter zumbidos nos ouvidos.
Na presença de algum destes sinais ou se tiver mais de 50 anos, deve procurar um Audiologista ou Otorrinolaringologista, no sentido de efetuar uma avaliação audiométrica para aferir a sua acuidade auditiva.
Recomendações para reduzir o impacto da perda auditiva
Felizmente a investigação científica permitiu nos últimos anos o desenvolvimento de tecnologias e metodologias de intervenção terapêutica altamente eficazes na reabilitação auditiva, mas para isso é fundamental seguir os passos certos no momento certo:
1º estar consciente da urgência da reabilitação auditiva para obter os melhores resultados e evitar maiores danos na sua saúde mental
2º procurar profissionais qualificados, Audiologistas ou Otorrinolaringologistas, para efetuar o diagnóstico da perda auditiva o mais precoce possível.
3º fazer a correção da perda auditiva, com as próteses auditivas recomendadas pelos profissionais, ou em algumas situações mais graves com o recurso a implantes cocleares
4º seguir o programa de reabilitação e treino auditivo propostos, colaborando ativamente e de forma positiva e resiliente.
5º estar consciente que qualquer dispositivo de correção auditiva não é um “ouvido novo”, nem irá permitir voltar a ter uma audição a 100%, mas sim irá atenuar significativamente as dificuldades auditivas, permitindo voltar a ter satisfação e alegria no convívio com familiares e amigos.
Seguindo estas recomendações estará certamente a dar um passo de gigante na manutenção da sua qualidade vida e saúde mental.
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