O Pagode em Portugal, templo dos deuses terrenos, é uma enorme manjedoura com muitas fachadas e cheio de bichos contaminantes.
Naquele semicírculo há uma permanente folgança cujos pagodeiros se servem a seu bel-prazer à custa de quem lhes paga. O seu chefe é um bicho muito culto e bem-falante, outros houve que eram bichos em tudo. Tais excelências entram tarde na bambochata, mas em compensação saem cedo ou ganham horas extra. Se o zé pagode visse o que se passa no Pagode acabava com aquela pagodeira porque quem não tem para comer não pode sustentar vícios.
Enquanto a formigas andam distraídas à procura de comida, os bichos estão numa pândega permanente encenando brigas e zaragatas como palhaços num palco dourado. Contudo, as magrizelas formigas prestam-lhes inúmeras mordomias que elas próprias desconhecem na sua mesa.
Neste Pagode não são só tristezas, também existem cigarras que aparecem frequentemente, nos intervalos das patuscadas, a cantar ou a assobiar para o lado esquecendo-se de quem lhes paga a comezaina. O objectivo é distrair o zé pagode.
Na escola a borracha apaga os riscos, no Pagode a caixinha falante apaga as memórias.
Enquanto a fome persiste no formigueiro, muitas formigas fogem e as que ficam de perfil já não se veem, os anafados rouxinóis com garras afiadas compõem o ramalhete para embalar quem se deixa dormir.
No templo do falajar a estroinice dos bens do patrão é o passa tempo preferido dos bichos oportunistas e imbecis cavalgando na passividade do formigueiro.
“… Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, …” Guerra Junqueiro, “Pátria”, 1896.
Este país é um pagode.
* Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa;
Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Comunitário pela U. Sevilha;
Professor aposentado.