Apesar das muitas coisas boas que o país possa ter e que o glorificarão, como, por exemplo, os Pastéis de Belém, não se pode deixar de registar, igualmente, algumas coisinhas que, porventura, terá de menos boas, tais como:
– Não haver o hábito, propriamente, do planeamento, mas do desenrascanço, com todas as limitações daqui decorrentes;
– Ao contrário de outrora, não se ousa avançar, com determinação, mar adentro, mas se limita, timidamente, a navegar à vista da costa e ao sabor do vento, esperando que um qualquer «fundo comunitário» caia nas mãos;
– Muitos dos designados «empresários» são possuídos de uma curiosa filosofia económica, traduzida em privatização de lucros e socialização de prejuízos, já que serão «alérgicos» às vicissitudes próprias do mercado;
– Se censura a corrupção, mas se tolera a cunha, conforme revelado por recente estudo sobre a matéria, qual instituição sobrepondo-se aos princípios da igualdade, do mérito e da competência;
– A justiça tem, cada vez mais, lugar na praça pública, com o princípio da presunção da inocência reduzido a uma simples figura de retórica;
– Um diferendo, por mais simples que seja, com o Estado, se arrasta por anos sem fim num qualquer Tribunal Administrativo ou Fiscal;
– Se assiste, cada vez mais, no designado mundo da política, a uma dominante cultura que mais parece interessada na conquista do poder pelo poder, ao serviço de estranhos desígnios, do que, propriamente, na resolução dos problema com que o país se possa debater, enquanto, paralelamente, se vai assistindo a elevados índices de abstenção e votos em branco em sucessivas eleições;
– Se denuncia o «populismo», mas não se tem a coragem de assumir, auto criticamente, muitas das responsabilidades pelo crescer do mesmo, como se ele, sem mais, do céu caísse;
No que ao Algarve, em particular, diz respeito, a par de se possuir o «melhor sol do mundo», como há quem reclame, embora a água vá escasseando para hidratação de tanto sol se apanhar:
– Por falta de uma visão de diversificação da economia, em que tudo se apostou na «monocultura» do turismo, o trabalho, para além de se mostra sazonal, revela-se, não raro, mal remunerado, com muita da sua juventude, em particular a mais qualificada, a ser levada a abandoná-lo, procurando, nomeadamente no estrangeiro, melhores condições de vida;
– Se verificam, cada vez mais, índices preocupantes de pobreza, de abandono escolar e se começam a sentir os de consumo de estupefacientes e criminalidade;
– Devido, nomeadamente, a diversas benesses fiscais concedidas a estrangeiros endinheirados visando atraí-los ao país, os preços no mercado habitacional na região têm-se vindo a tornar cada vez mais incomportáveis para a maioria dos naturais, a quem restará, em última instância, comprar um pedaço de terra no meio da serra e aí instalar uma caravana ou casa pré-fabricada ou, ainda, a casa procurar na vizinha Espanha;
Mas pronto, também não há países perfeitos, embora uns possam ser mais do que outros.
PS – «Tribunal de Contas arrasa privatização e reprivatização da Efacec, podendo esta exigir 564 milhões em financiamento público» – lê-se.
Ora, o que são 564 milhões num país onde faltam infantários ou uma rede de lares de terceira idade condigna? Uma ninharia, pois então!
Leia também: Sinistralidade rodoviária | Por Luís Ganhão