A Economia é uma ciência que tem a faculdade de dar indicações de governação, a médio e longo prazos, a partir dos indicadores económico/sociais, alguns com uma antecedência de um e dois anos. Se os governantes forem competentes têm em atenção esse conjunto de informações o que lhes permite tomar decisões mais assertivas do que aquelas que são tomadas a pensar nos votos.
O comércio externo é um bom indicador, à posteriori, da evolução estrutural da economia de um país, para a tomada de decisões estruturais a longo prazo. Quando uma economia tem um desenvolvimento robusto tende a exportar mais do que a importar, pelo que o saldo comercial é, habitualmente, positivo. No caso português, a balança de bens só foi positiva durante a segunda guerra mundial, desde então tem sido sempre deficitária, tanto nos bens industriais como nos bens alimentares, devido ao nosso atraso industrial e a termos uma agricultura muito insuficiente para as nossas necessidades. Durante várias décadas esse saldo negativo foi compensado com as remessas dos emigrantes e com os produtos baratos que vinham das colónias, nos últimos anos tem sido compensado com a venda de serviços de turismo.
Na tabela abaixo é patente uma evolução muito perigosa. No final da governação Sócrates o saldo comercial foi muito negativo, a taxa de cobertura das importações pelas exportações estava na casa dos sessenta por cento, o que se torna insustentável numa economia. A partir do resgate financeiro o défice de bens diminuiu e o saldo dos serviços aumentou pelo que o saldo comercial passou a ser positivo e a taxa de cobertura passou para mais de oitenta por cento, a economia do país estava a melhorar. Depois do governo de Passos Coelho, o défice da balança de bens começou a subir e a taxa de cobertura ganhou a tendência de descida. Acresce que a taxa de crescimento das importações é superior à taxa de crescimento das exportações, o que consubstancia um agravamento do défice da balança comercial, reflectindo a necessidade de políticas estruturais. É, também, o resultado do crédito ao consumo, tanto na era Sócrates como actualmente, as pessoas estão a consumir acima das suas possibilidades actuais por isso recorrem ao crédito ao consumo para pagar no futuro que é incerto. É uma situação de aumento da divida privada face ao estrangeiro, um dia terá de ser paga com custos sociais muito elevados!
O crédito ao consumo está a atingir níveis preocupantes, já superou o volume de crédito ao consumo anterior ao resgate financeiro em 2011. As pessoas e os bancos não aprenderam nada com a crise que motivou a vinda da troika e por outro lado o Governo e o Banco de Portugal não tomam medidas adequadas para evitar males maiores.
Segundo o Instituto nacional de Estatística, a taxa de desemprego foi de 6,7% em 2019, esta taxa ainda está longe da taxa ideal de 2,0% que corresponde ao desemprego friccional de uma economia saudável. As pessoas desempregadas consomem bens mas não estão a produzir, é mau para elas e para a economia. Ao mesmo tempo o indicador de confiança dos consumidores é -8,4% e a perspetiva sobre a situação económica do país nos próximos 12 meses é -6,8%, os dois indicadores são negativos.
É público e notório que o actual ministro das finanças quer sair do governo, e por consequência de presidente do Eurogrupo, pelo que não pertencerá ao governo na presidência da UE por Portugal em 2021, indo talvez ocupar o cargo de governador do Banco de Portugal. Também há muitas opiniões que António Costa não chegará ao fim da legislatura.
Este conjunto de factos faz-me pensar que nada de bom se aproxima. Talvez um novo resgate financeiro, talvez a saída do euro e regresso ao escudo, o que será que nos espera?