Ano após ano, os algarvios aguardam por uma promessa que parece nunca se concretizar: a construção de um novo Hospital Central para o Algarve. É uma espera que já se tornou dolorosamente longa e que, enquanto não se materializa, coloca em risco a saúde e a dignidade de milhares de pessoas. Os testemunhos dos utentes dos hospitais públicos da região são assustadores e perturbadores. Os corredores das urgências, sobrelotados e sem o mínimo de condições de higiene, são um triste reflexo de um sistema que deixou de dar resposta às necessidades básicas da população algarvia.
Nos hospitais públicos do Algarve, os relatos diários são de sofrimento e desespero. Utentes abandonados em macas nos corredores, durante horas – às vezes dias – sem privacidade, sem assistência adequada e, muitas vezes, sem sequer o consolo de um diagnóstico. As queixas são esmagadoras: gritos de dor que ecoam pelos corredores, onde seres humanos, deixados à sua sorte, imploram por cuidados médicos que tardam a chegar. Em muitos casos, a falta de profissionais de saúde e de infraestruturas adequadas resulta numa perda de dignidade que é inaceitável numa sociedade que se quer justa e solidária.
A urgência da construção do novo Hospital Central do Algarve é uma promessa antiga que tem sido adiada por sucessivos governos | Editorial de Henrique Dias Freire
A questão da higiene, fundamental num ambiente hospitalar, é outro problema gritante. Os corredores transformaram-se em locais improvisados de atendimento, sem condições mínimas para garantir a segurança e a saúde dos utentes. As queixas de falta de limpeza, de materiais e de espaço adequado são constantes. Pacientes que deviam estar a ser atendidos em camas hospitalares acabam relegados para macas em condições insalubres, aumentando o risco de infeções e outras complicações.
Como é possível que uma das regiões mais importantes do país, com um impacto económico tão relevante, continue sem um hospital central à altura das suas necessidades? O Algarve, que recebe milhões de turistas todos os anos e contribui significativamente para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, não pode continuar a ser tratado como uma prioridade de segunda linha. A construção de um novo Hospital Central não é apenas uma questão de saúde pública, é uma questão de justiça para com todos os algarvios que, diariamente, sofrem com um sistema de saúde que já há muito ultrapassou os seus limites.
Os testemunhos dos utentes falam de um Algarve esquecido. Falta de camas, de profissionais de saúde, de infraestruturas que consigam lidar com a crescente procura, não apenas dos residentes, mas também dos turistas que durante os meses de verão sobrecarregam os serviços.
A construção do novo Hospital Central do Algarve é uma promessa antiga que tem sido adiada por sucessivos governos. A cada eleição, o tema volta a ser discutido, mas sem que se veja um avanço concreto. Enquanto isso, a população algarvia, especialmente os mais vulneráveis – os idosos, os doentes crónicos, as famílias com menores rendimentos – continua a sofrer as consequências desta inação.
O Algarve precisa de um hospital central com urgência. Um hospital que seja capaz de responder adequadamente às necessidades de uma população em crescimento, que ofereça cuidados dignos e humanizados a todos aqueles que necessitam. Não podemos continuar a assistir impassíveis à degradação do nosso sistema de saúde, onde os mais básicos direitos dos cidadãos são ignorados. A saúde não é uma questão de política, mas de humanidade.
É tempo de agir. É tempo de os responsáveis políticos deixarem de lado as promessas vazias e darem aos algarvios aquilo a que têm direito: um sistema de saúde que funcione, que respeite a dignidade humana e que garanta que ninguém mais tenha de sofrer nos corredores das urgências, abandonado ao destino.
O Algarve merece mais. E, sobretudo, os seus cidadãos merecem respeito. O novo Hospital Central do Algarve não é apenas uma necessidade – é a maior dívida que o Estado português tem para com todos nós.
Leia também: Saiba o que deve fazer se avistar o fugitivo algarvio Fábio “Cigano” condenado a 25 anos de prisão