Portugal é um país intimamente ligado ao mar. A sua história, identidade e economia estão profundamente enraizadas no oceano Atlântico que o envolve. Mas, para além de uma ligação cultural, o país detém uma vasta riqueza marinha, muitas vezes desconhecida pela população e subvalorizada pelas políticas públicas. No entanto, o tempo de adotar uma posição de destaque chegou, e Portugal deve assumir a liderança na Europa na proteção dos seus mares, como afirma Emanuel Gonçalves, coordenador da expedição científica ao banco de Gorringe, a 130 milhas náuticas (cerca de 240 quilómetros) a sudoeste do cabo de S. Vicente, no Algarve.
A extensão da nossa zona económica exclusiva coloca-nos numa posição privilegiada, com um vasto território marítimo que abriga uma biodiversidade extraordinária. O banco de Gorringe, um dos muitos ecossistemas únicos presentes nas águas portuguesas, é um exemplo de como o oceano guarda tesouros de incalculável valor científico, ecológico e até económico. A expedição científica que explora este monte submarino sublinha uma realidade urgente: conhecemos muito pouco sobre o nosso próprio oceano, e isso limita a nossa capacidade de o proteger adequadamente.
O trabalho realizado pela expedição de Gorringe e as instituições envolvidas é uma prova de que Portugal começa a trilhar o caminho certo
Portugal tem a oportunidade de liderar a resposta europeia ao desafio de proteger o oceano. A União Europeia definiu como meta proteger 30% das suas águas marinhas até 2030, e Portugal, com os seus mais de 1,7 milhões de quilómetros quadrados de zona económica exclusiva, tem uma responsabilidade única para contribuir de forma significativa para este objetivo. O trabalho desenvolvido, através da expedição no Santa Maria Manuela, mostra que a ciência é o pilar fundamental para fundamentar políticas robustas de proteção marinha.
A ciência revela, por exemplo, que a biodiversidade do banco de Gorringe está ameaçada por anos de exploração desregulada e sobrepesca. A ausência de predadores de topo, como os tubarões, nas imagens captadas pelos cientistas, é um sinal preocupante de desequilíbrio ecológico. Isto é apenas um reflexo de um problema maior que ocorre em todo o mundo: a degradação dos ecossistemas marinhos devido à atividade humana.
Portugal tem muito a ganhar ao assumir uma postura proativa na proteção do oceano. A criação de áreas marinhas protegidas, que já incluem o banco de Gorringe na Rede Natura 2000, é um primeiro passo, mas não é suficiente. Precisamos de uma proteção mais robusta, que assegure não só a conservação da biodiversidade, mas também a recuperação dos ecossistemas já danificados. Para isso, é essencial uma abordagem baseada no conhecimento científico, mas também no compromisso político e na participação de todos os setores da sociedade.
Ao assumir a liderança, Portugal poderá também colher benefícios económicos significativos. O oceano é uma fonte de recursos renováveis e um pilar para setores como o turismo, a pesca sustentável e as energias renováveis. No entanto, sem uma gestão equilibrada e sustentável, esses recursos correm o risco de desaparecer. A liderança de Portugal na proteção dos oceanos não é apenas uma responsabilidade moral, mas também uma estratégia inteligente para assegurar o futuro do país e do planeta.
O trabalho realizado pela expedição de Gorringe e as instituições envolvidas é uma prova de que Portugal começa a trilhar o caminho certo. Mas é preciso ir mais longe. O governo português, em conjunto com a comunidade científica e organizações não-governamentais, deve intensificar os esforços para proteger as suas águas e colaborar com a Europa e o mundo nesta missão.
A liderança de Portugal na proteção do oceano pode ser o legado de uma geração que finalmente percebeu que o mar não é apenas um recurso para ser explorado, mas um bem comum que deve ser preservado. A ciência aponta o caminho e a responsabilidade é nossa.
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