A identidade humana é um conceito, que além de profundamente estudado é muito difícil de definir. Se perguntássemos a alguém assim de repente, “quem és tu?”, provavelmente a resposta mais repentina girava a volta dos dados pessoais, incluídos no cartão de cidadão. Mas se quisermos ir mais longe do que diz o nosso documento de identificação, tínhamos de entrar nos subterrâneos do nosso “ ser” e fazer uma viagem no tempo para chegar a memórias antigas, lugares por vezes geograficamente distantes e mergulhar nas histórias dos nossos antepassados. Mas antes de irmos por aí, vale a pena fazer uma pequena retrospetiva teórica relativamente ao conceito que nos interessa, e interessa muito pois trata da nossa existência, explica as nossas raízes e toca nos assuntos que vivem dentro de nós.
O conceito de identidade pode subdividir-se em Identidade nacional ou em Identidade cultural. Segundo Anthony Smith a identidade nacional permite-nos sistematizar os seguintes diferentes elementos: o território, a(s) história(s) comum(s), a cultura popular, direitos e deveres legais e uma economia comum. Já o conceito de Identidade cultural vai muito mais além do conceito de cidadania. Identidade cultural será tudo o que é apreendido do meio físico e social, seja esta transmissão intencional ou não.
Analisando os trilhos teóricos conseguimos reparar que esta última faceta da identidade (cultural) tem um papel poderoso sobre quem somos, pois está nos genes, está nas histórias de amor e de traição, na luta pela vida, nas decisões certas e erradas dos nossos antepassados, nos olhos dos nossos avós, nas casas onde viviam e nas terras onde foram enterrados.
Conforme o estudo realizado numa tese de doutoramento recente entre alunos de escolas secundárias, sobre os elementos construtores da identidade, registou-se que em primeiro lugar os alunos portugueses valorizam a família. Este resultado terá a ver com o conceito de família ainda bem vincado na nossa sociedade e sobretudo pelos sentimentos de afetividade e a comunhão de ideias e valores dentro do seu clã.
Na verdade todos estamos conscientes da importância do conhecimento das histórias das nossas famílias, mas na prática normalmente conhecemo-las apenas até à geração dos nossos avós. A vida tem pressa, e não há tempo para uma investigação profunda. Mas quem tiver, com certeza ficará mais rico, ganhará um tesouro na forma do conhecimento absoluto da sua identidade, identidade na plenitude das suas facetas. Todos temos uma história, única e especial e desde os primeiros dias da nossa infância mais ou menos inconscientemente andamos à procura dela. Hoje em dia mais do que nunca existem meios, registos digitais, programas e até aplicações para chegar à informação pretendida. O tal caminho penoso e de investigação, percorreram os alunos do primeiro ano de Educação Social no ISCE Douro em Penafiel. Dentro da disciplina de Antropologia Social e Cultural realizaram uma pesquisa etnográfica e criaram as suas árvores genealógicas, que apesar de fazerem parte do projeto final, tornaram-se um verdadeiro projeto do coração, que resultou não só em descobertas surpreendentes, mas também mostrou uma nova perspetiva de olhar o futuro, pois apenas com a plena consciência das raízes, com a preservação e sua valorização, se consegue seguir em frente com convicção.
É certo que as futuras gerações criarão as próximas histórias e darão continuidade à nossa, até de forma mais facilitada, pois com a era digital é indiscutível que os dados serão mais facilmente alcançáveis e percetíveis.
Esta saga é um verdadeiro tesouro, e a boa notícia é que cada um de nós tem-no no seu “baú”, basta ir abri-lo.
*Anna Kosmider Leal é antropóloga e linguista, fundadora da plataforma de ensino de línguas estrangeiras SpeakingParrot.net . Também é desde 2015 docente no ISCE Douro – Instituto Superior de Ciências Educativas do Douro, em Penafiel, em Portugal. Em 2014 concluiu o Doutoramento em Ciências Sociais – Especialidade em Antropologia – na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, em Portugal.
Em 2005 fez uma Pós-Graduação em Administração Europeia na Universidade Adam Mickiewicz em Poznan, na Polónia. Em 2004 licenciou-se em Etnolinguística, especialização em línguas Inglesa/Portuguesa no departamento de Neofilologia da Universidade Adam Mickiewicz em Poznan, na Polónia. Desde 2000 trabalha como leitora de línguas estrangeiras e desde 2005 como docente do ensino superior e tradutora.