Podia desejar-te boas entradas no ano que se avizinha; podia fazer-te votos de muita sorte, amor e prosperidade, e até poderia auspiciar-te as mais maravilhosa bênçãos. Mas parece-me que nada do que possamos desejar uns aos outros influi de facto na absoluta imprevisibilidade com que a vida, ciclo após ciclo, se nos impõe. O devir dos dias e meses, ao longo de cada ano, nunca pode trazer só coisas boas; é mesmo assim, é normal. O destino apresenta-se-nos como um descarado agente provocador, pronto para zombar de nós e nos desarmar de certezas e alentos. Por isso, mesmo que te desejasse tudo o que nos desejamos sempre nestas ocasiões, tais desejos seriam como placebos, como frágeis jangadas no meio do profundo e imenso mar: impotentes portanto face ao futuro que de certo apenas tem incertezas.
É neste contexto que, em alternativa, opto por te desejar força para enfrentar tudo o que venha.
Desejo-te indiferença face às desilusões que certamente terás.
Desejo-te frieza suficiente para que deixes ir, sem sofreres, o que já não queres que caiba na tua vida.
Desejo-te uma ironia capaz de se rir alto das piadas de mau gosto com que o novo ano te brindará.
Desejo-te coragem para cada receio.
Desejo-te capacidade de aguentares as dores e as superares.
Desejo-te toda a falta de genuinidade necessária à tua segurança.
Desejo-te insubordinação para que não aceites sem agir aquilo com que não concordas.
Desejo-te falta de paciência para que finalmente deixes de aturar tudo o que te faz perder tempo.
E desejo-te dureza, daquela que têm os diamantes por se forjarem nas mais impossíveis pressões.
Desejo-te ainda intensidade e sabedoria para que agarres com toda a emoção cada agradável surpresa que este novo ano te traga e, por fim, desejo que a soma de todas as tuas eficientes respostas à vida te conduzam a um 2017 pleno de evolução.