O maior número de vítimas da pandemia que se anunciou no nosso país, em março, são seniores, com co-morbilidades, afetados por doenças crónicas e pouco protegidos por estilos de vida saudáveis. Matéria de reflexão para que os seniores do presente e do futuro se interessem em instituir um paradigma que vai do individual à mudança do olhar político, encarando de outro modo os sistemas de saúde, a educação e a cultura (a literacia), o trabalho e a vida ativa, entre outras questões dominantes.
Tratando-se de matéria vastíssima, vamos por etapas. Em primeiro lugar, ganhando uma perceção mais nítida de como envelhecemos, e não só fisiologicamente, mas a fisiologia é preponderante. Este envelhecimento fisiológico está marcado por alterações das funções orgânicas, há que conhecer e prevenir o modo como os órgãos e sistemas perdem progressivamente a capacidade de manter o equilíbrio orgânico face ao stress. Há alterações estomacais (por exemplo, o esvaziamento gástrico é mais lento) que diminuem as funções renais e de débito cardíaco, há redução da massa muscular e do volume total de água, há uma tendência para o aumento de tecido adiposo, entre outras. Falamos de alterações caraterísticas do envelhecimento que se devem traduzir em comportamentos adequados como, por exemplo, obrigam a um cuidado especial de zelar a toma de medicamentos. É elevadíssima a percentagem de seniores que tomam medicamentos prescritos – é a chamada polimedicação, tem riscos acrescidos, pois que as alterações que atrás foram referidas podem afetar a efetividade do medicamento.
A eliminação deste está reduzida no sénior, sobretudo devido à diminuição da função renal que se reduz progressivamente com a idade, independentemente da presença de patologias. De notar, porém, patologias como a diabetes, a hipertensão e a insuficiência cardíaca, podem contribuir para a diminuição da função renal. Há que ter em conta as reações adversas. De há muito que as instituições de saúde apuraram queixas associadas à toma de medicamentos, como será o caso de: confusão (associada a diferentes fármacos), obstipação, hipotensão postural e quedas. Também está bem referenciado que os seniores apresentam maior sensibilidade às reações adversas causadas por fármacos depressores (caso dos psicofármacos e dos anti-histamínicos).
Daí o papel determinante do aconselhamento médico e da indicação farmacêutica, sempre que possível devem trabalhar de forma articulada em todo este longo processo da promoção de um envelhecimento bem-sucedido, na identificação das doenças crónicas, na promoção do uso correto, efetivo e seguro dos medicamentos.
Doravante, depois de termos sido assolados por esta terrível pandemia, é certo e seguro que se encarará com outros olhos a promoção da saúde: os estilos de vida saudáveis, a reclassificação dos valores de higiene, o papel da consulta médica, a conjugação do médico e do farmacêutico na gestão da doença crónica, a intervenção da escola e até das universidades seniores na organização cultural do que é uma vida com qualidade numa sociedade em que se disseminam os riscos e em que para viver com ganhos em saúde temos de ser cada vez mais responsáveis pela sua gestão, interiorizando o paradigma da saúde no nosso quotidiano.