Existe um filme indiano que se chama “Como Estrelas na Terra”, que todos os professores e todos os alunos deveriam ver, ou melhor, que todas as pessoas deveriam ver.
O filme retrata a história de um jovem que é incompreendido na escola e em casa porque sofre de dislexia, mas um dia encontra um professor que irá ter uma enorme importância na sua vida.
Nunca foi tão difícil ser professor como hoje em dia.
Ser professor de uma boa turma poderá ser a melhor profissão do mundo. Ser professor de uma má turma poderá ser a pior profissão do mundo. Nestes dois polos opostos viaja a profissão de professor.
Um professor pode ter uma turma de 26 alunos em que para além de ter que ensinar e educar, tem que dar atenção a alunos carentes que provêm de famílias destruturadas, alunos revoltados porque a vida lhes foi madrasta, alunos desmotivados porque não gostam da escola, a bons alunos que não têm culpa de nada e vêem-se envolvidos naquele cenário e pior que tudo enfrentar Encarregados de Educação que não têm a mínima noção do que é ser professor e a dificuldade que é o exercício do cargo.
Um professor que tem uma turma assim acaba por ser pai, mãe, psicólogo, pedagogo, sociólogo, conselheiro, amigo, confidente, etc. É provavelmente a atividade mais desgastante hoje em dia na sociedade.
É necessário que haja uma reflexão profunda por parte das entidades competentes para que se chegue a consensos e entendimentos no que diz respeito ao sistema educativo português.
A rapidez da transformação da sociedade nos últimos anos criou um desafio gigantesco ao sistema de ensino.
As famílias são agora muito diferentes. A educação é agora muito diferente. A sociedade é agora muito diferente.
Perante essa transformação a escola precisa de se adaptar e criar um novo paradigma que vá ao encontro da necessidade de todos.
Existem algumas alterações que deveriam ser analisadas e discutidas por parte de toda a sociedade, nomeadamente as aulas decorrerem só da parte da manhã, as turmas terem no máximo 20 alunos, as cargas horárias das disciplinas diminuírem, assim como alguns programas de algumas disciplinas, existirem dois professores em cada aula. Da parte da tarde a escola deveria oferecer outro tipo de atividades, tais como clubes de teatro, cinema, música, literatura, fotografia, sessões de leitura e de estudo, desporto escolar e torneios desportivos. Na última semana de cada período ou semestre não deveria haver aulas, mas sim atividades onde os alunos pudessem ver reconhecidos os seus esforços e criações.
No fundo, uma escola onde todos se revessem e que todos gostassem de fazer parte. Mia Couto escreveu o seguinte “Professor não é quem dá aulas. É quem dá lições. Não é aquele que vai à escola ensinar. É aquele cuja vida é uma escola”.
Eu acrescentaria que aluno não é aquele que vai à escola aprender. É aquele que tem a escola dentro de si. No sentido da partilha, da discussão, da compreensão do outro, de escutar o outro, de apoiar quem precisa, no sentido de ver as coisas de cima e através desse olhar encontrar a sua felicidade na felicidade dos outros.
Eu acrescentaria que uma estrela na terra podem ser todos aqueles que estejam atentos aos outros, no sentido de os compreender, mas acima de tudo na forma como olhamos para os outros.