As bibliotecas sempre procuraram ir ao encontro do seu público. Temos o exemplo relativo às novas tecnologias, em que as bibliotecas foram as primeiras a procurar disponibilizar computadores e a tentar preparar os utilizadores para o seu uso.
A atividade das Bibliotecas Públicas foi respondendo ao surgimento de novos suportes de informação e foi-se adaptando às novas necessidades tendo no envolvimento com a comunidade o seu principal eixo de ação.
Nem sempre foi assim. Tradicionalmente, as principais atividades da Biblioteca eram definidas por procedimentos transacionais, como empréstimo e devolução de livros e outros materiais, ou apoio aos seus utilizadores relativo a questões que se prendiam com a coleção. O objetivo principal era suprir as necessidades educativas e de conhecimento. Os bibliotecários não precisavam criar uma relação com o utilizador, verificava-se apenas uma transação para garantir que os utentes tivessem o que precisavam.
A localização e o espaço físico da Biblioteca foi ganhando maior importância, e as atividades que aí se realizam são diversas: reuniões, grupos de estudo, pequenos cursos sobre diferentes assuntos, seminários, exposições. As Bibliotecas Públicas têm-se vindo a tornar, espaços vivos em que as pessoas convivem, locais de encontro e de relacionamento entre bibliotecários e utilizadores que procuram diferentes matérias e atividades.
Muda assim da função transacional para a relacional, como afirma Mogens Vestergaard, bibliotecário dinamarquês (https://princh.com/modern-libraries-from-a-transactional-to-a-relational-library/ )
Esta relação tem por base a noção da importância do conhecimento e da essencial capacidade leitora. A Biblioteca Pública repensa-se promovendo esta nova realidade: capacidade leitora, promoção da leitura.
As relações entre Biblioteca Pública e Promoção da Leitura tornam-se assim intrínsecas e não se dissociando uma da outra, importa precisar a noção de Leitura para que possamos trabalhar na sua promoção.
A Leitura, é hoje consensual, entende-se como a capacidade de Ler e Interpretar a informação que nos rodeia, não apenas os livros e a documentação digital, mas o IRS, as bulas de medicamentos, os meios de comunicação social, a leitura das artes (cinema, teatro, artes plásticas…).
Ler subentende, interpretar, questionar e participar, remetendo-nos assim para o exercício da cidadania.
É partindo desta noção que as Bibliotecas Públicas se repensam buscando as suas bases num ambiente de informação cada vez mais fragmentado e cada vez mais digital. Não são apenas os livros e as ferramentas técnicas, mas o conhecimento e a aprendizagem que estão no centro da vida da Biblioteca Pública.
Como pode então a Biblioteca Pública trabalhar para desenvolver na sua comunidade este tipo de Leitura?
Torna-se fundamental conhecer a comunidade em que cada Biblioteca se integra, recorrendo a ferramentas, disponíveis (estudos sociais, demográficos, etc.); encontrar parceiros para o desenvolvimento de atividades e também como força para afirmação no meio; contar com uma equipa motivada e criativa, que promova o diálogo constante com os utilizadores.
Como defende R. David Lankes no seu livro “The Atlas of New Librarianship”, o conhecimento é promovido pela interação da Biblioteca com a comunidade em que se insere e neste modelo relacional a Biblioteca atua não somente como uma porta de entrada, mas também como uma plataforma, facilitando a criação e o acesso ao conhecimento da comunidade local.
(Paula Ferreira / Biblioteca Municipal de Tavira)
(CM)