Já é habitual vermos as chamadas feiras de velharias por todo o país. Algumas coisas são peças raras de antiguidades e outras são realmente velharias. Não há uma grande clientela, mas os vendedores vão sobrevivendo. Poderão perguntar-me o que é que isto tem a ver a economia. A resposta situa-se a dois níveis: ao nível individual e ao nível coletivo.
Ao nível individual há uma poupança imediata porque há artigos em bom estado e evita-se comprar artigos novos muito mais caros. Contudo, não há o hábito de comprar coisas usadas talvez para mostrar que temos dinheiro para comprar artigos novos.
Ao nível coletivo a poupança é maior do que se possa pensar. Há cerca de quatro milhões de famílias em Portugal, se cada família comprar um artigo por mês são cerca de sessenta milhões de artigos por ano, supondo que esses artigos têm um preço médio de cinco euros, são trezentos milhões de euros que ficam no país porque não são importações. Se em vez de artigos usados comprarmos artigos novos o valor é, pelo menos, cinco vezes maior, o que significa um valor de pelo menos mil e quinhentos milhões de euros e como importamos mais do que exportamos uma boa parte desse dinheiro vai para o estrangeiro, agravando as contas externas do país.
Creio que os pressupostos destas contas não pecam por excesso, talvez pelo contrário.
Se pensarmos em pequenos eletrodomésticos, pequenas máquinas, utensílios, ferramentas, louças e móveis as poupanças são significativas. Existem móveis de grande qualidade nas lojas de segunda mão, mas as pessoas preferem ir comprar móveis em aglomerado de madeira e plástico mais caros e que se estragam a curto prazo, é a ilusão de comprar novo. Faz-me lembrar Raul Solnado “o meu filho vai para a guerra mas vai limpo”.
Não se poupa deitando para o lixo o que ainda está bom.
Há que mudar velhos hábitos da sociedade.