A saúde em Portugal enfrenta desafios profundos, e o relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), referente ao primeiro semestre de 2024, revela que o Algarve, como outras regiões do país, não está imune aos problemas que afetam o sistema. Com 41.588 reclamações apresentadas à ERS durante este período, metade delas relacionadas com o acesso a cuidados, a segurança do doente e os tempos de espera, é evidente que estas questões continuam a preocupar e a afetar a experiência dos utentes.
Embora a região de Lisboa e Vale do Tejo tenha registado o maior volume de queixas, o Algarve não ficou de fora deste retrato. O Hospital de Faro, pertencente ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), foi um dos hospitais do setor público com maior número de reclamações, o que reflete os desafios de uma região que, especialmente no verão, sofre com o aumento da procura de serviços de saúde devido à população flutuante.
O Algarve requer atenção especial por parte das autoridades de saúde. A resposta não pode continuar a ser paliativa ou sazonal, mas sim estrutural e permanente
Os dados do relatório da ERS colocam em evidência o que muitos já sabem: o acesso aos cuidados de saúde, em particular no setor público, continua a ser um dos maiores obstáculos que os utentes enfrentam. Seja pela falta de profissionais de saúde, seja pela sobrecarga dos serviços, muitos algarvios e turistas veem-se frequentemente numa situação desesperante ao tentar obter cuidados atempados.
Os tempos de espera são, sem dúvida, uma das principais queixas, com relatos frequentes de utentes a esperar horas nas urgências ou a aguardar semanas, por vezes meses, por consultas e exames. Isto agrava-se numa região que, devido à sua localização e ao afluxo de turistas, enfrenta uma pressão adicional nos serviços de saúde, especialmente durante a época alta. O Algarve, que já lida com desafios estruturais no setor da saúde, precisa de medidas concretas para reforçar a capacidade de resposta, tanto a nível hospitalar como nos cuidados de saúde primários.
Outro aspeto preocupante revelado pelo relatório é a segurança do doente. Um número considerável de reclamações, cerca de 19,3%, relaciona-se com constrangimentos na qualidade e segurança dos cuidados prestados. Isto levanta sérias questões sobre a capacidade de algumas unidades de saúde em garantir padrões adequados de tratamento e atendimento, o que é inaceitável num país que se orgulha de ter um Serviço Nacional de Saúde (SNS) universal e acessível.
Apesar deste panorama, há também razões para acreditar que nem tudo está perdido. O relatório da ERS revela que 9.285 elogios foram submetidos no primeiro semestre, um aumento significativo em relação ao ano anterior. Estes elogios mostram que, apesar das dificuldades, muitos profissionais de saúde continuam a fazer um trabalho notável, muitas vezes em circunstâncias adversas, garantindo que os utentes recebam o melhor cuidado possível dentro das limitações existentes.
Ainda assim, os números não mentem. O aumento de 4,5% no total de processos analisados pela ERS face ao período homólogo de 2023 é um claro sinal de que os problemas persistem e, em alguns casos, estão a agravar-se. O Algarve, com uma população residente envelhecida e uma pressão turística significativa, requer atenção especial por parte das autoridades de saúde. A resposta não pode continuar a ser paliativa ou sazonal, mas sim estrutural e permanente, reforçando o SNS na região e garantindo que todos tenham acesso a cuidados de qualidade, em tempo útil e com a segurança que merecem.
É urgente que as entidades responsáveis olhem para estes dados como um apelo à ação, não apenas na correção de falhas pontuais, mas na criação de soluções duradouras. A saúde é um direito fundamental, e todos os algarvios – residentes e visitantes – merecem um sistema de saúde robusto, capaz de responder às suas necessidades com eficiência e humanidade.
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