A dependência económica internacional funciona como uma enorme navalha a ameaçar o peito de uma pessoa.
Há muitos anos que os estudos, teorias e correntes de pensamento acerca da dependência económica internacional vêm sendo desenvolvidos por economistas de todo o mundo, a importância deste assunto justifica o esforço de compreensão nesta área.
Os países pobres têm uma vasta experiência, que dura há séculos e que parece eternizar-se, de dependência dos países desenvolvidos nas áreas alimentar, tecnológica, de transportes marítimos e aéreos, financeira, seguros, energética, saúde, educação, industrial, I&D, militar e logicamente política. Os países ricos impõem os preços que querem às matérias primas dos países pobres e impõem os preços dos produtos industriais que vedem. Em alguns países a dependência face ao exterior já faz parte da cultura política enraizada desde sempre. Esta realidade é bem visível nas votações na ONU, há dezenas de países pobres que votam sempre ao lado dos seus países dominadores (donos), alguns votam favoravelmente por questões de proximidade geográfica e estratégia internacional, o que é compreensível. Os países pobres são os escravos para o enriquecimento contínuo de quem os domina no xadrez internacional.
Portugal tem uma longa experiência de dependência económica e política do exterior, mas também tem experiência no outro lado da barricada. É por isso que tenta diversificar países fornecedores de matérias primas e produtos industriais bem como os países compradores dos nossos produtos, como qualquer outro país da periferia económica mundial. Apesar dos políticos portugueses aprenderem devagar, a larga experiência compensa.
Poderá parecer muito estranho a Alemanha estar dependente do gás russo, creio que não é tanto pelo frio que a população possa passar no inverno, mas pelo funcionamento da economia. Ora, aquele país não tem experiência de ser dependente de outros, pelo que se deixou enredar pelas políticas e estratégias de quem quer ser imperador do mundo. Creio que a lição vai sair muito cara à Alemanha e à Europa como um todo interdependente. A dependência do gás russo já era enorme com um gasoduto, mas como não era suficiente para satisfazer a ganância pelo gás mais barato começou a construir outro gasoduto entrando plenamente na armadilha montada pela Rússia, agora exige a solidariedade dos países da UE. A águia virou galinha.
Espero que esta dependência da Alemanha sirva de exemplo à Europa para não se deixar embalar pelos EUA, China e Japão, trabalhando na autossuficiência alimentar e energética porque tem tecnologia e conhecimento científico suficiente para esse desiderato.
* Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa;
Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Comunitário pela U. Sevilha;
Professor aposentado.