A evolução da tecnologia fez com que ao longo do tempo os portugueses pudessem começar a escolher entre pagar com dinheiro físico ou com cartão de crédito ou até mesmo com recurso ao MB WAY. Ainda que o uso do cartão de crédito seja sinónimo de maior segurança, conforto e rapidez, o que é certo é que há quem continue a preferir fazer pagamentos em dinheiro físico. De qualquer forma, começam a aparecer cada vez mais estabelecimentos comerciais e empresas que não aceitam pagamentos em numerário.
Cada vez mais companhias aéreas, como a TAP e a Ryanair, estão a abolir o pagamento em dinheiro a bordo, obrigando os passageiros a utilizarem exclusivamente meios eletrónicos. Quer isto dizer que a bordo dos aviões da TAP e da Ryanair só poderá fazer compras se tiver consigo um cartão de crédito ou débito. Esta tendência tem vindo a gerar um debate crescente, principalmente entre os que defendem a liberdade de escolha nos meios de pagamento.
Ryanair recusa o dinheiro físico por questões de higiene
A TAP, por exemplo, permite apenas o pagamento com cartão de crédito ou débito nas suas vendas a bordo, não aceitando dinheiro físico. A companhia justifica esta política com razões de segurança e eficiência operacional. A Ryanair, por sua vez, baseia-se em questões de saúde pública e higiene, apontando para os riscos associados ao manuseamento de dinheiro, agravados pela pandemia de Covid-19.
“No interesse da saúde pública e da higiene, devido aos riscos associados ao manuseamento de dinheiro destacados pela crise de Covid-19, apenas aceitamos pagamentos por cartão de crédito e de débito para tarifas, taxas, despesas, encargos, serviços adicionais e compras realizadas a bordo”, lê-se no primeiro ponto do artigo número 18 das Condições Gerais de Transporte de Passageiros e Bagagem da Ryanair.
Dinheiro físico continua a ser muito usado em Portugal
A verdade é que em Portugal o dinheiro físico continua a ser amplamente utilizado. Um inquérito recente da Pitagórica, divulgado pela Denária Portugal e citado pelo portal Human Resources, revelou que 77% dos portugueses usam dinheiro vivo semanalmente e 68% considera-o um meio de pagamento importante.
Apesar desta prevalência, a maioria dos inquiridos afirma que tem sido cada vez mais difícil aceder a dinheiro físico. A crescente digitalização dos pagamentos e a redução do número de caixas automáticas são apontadas como algumas das principais dificuldades enfrentadas pelos consumidores.
Alguns estabelecimentos comerciais também só estão a aceitar pagamentos em cartão
A recusa do pagamento em numerário também tem sido sentida noutros setores. Segundo o estudo, 22% dos portugueses já viram o seu dinheiro vivo rejeitado em estabelecimentos comerciais, um aumento de oito pontos percentuais face a 2023.
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Perante esta realidade, 92% dos inquiridos defendem que a aceitação de dinheiro físico deveria ser obrigatória nos estabelecimentos comerciais. Além disso, 63% dos participantes no inquérito considera que deveriam ser aplicadas coimas às empresas que recusam este meio de pagamento, um aumento significativo em relação ao inquérito do ano anterior.
A preocupação com a inclusão financeira é também evidente. A maioria dos inquiridos (79%) acredita que a não aceitação de dinheiro prejudica gravemente os mais idosos e aqueles que têm menor literacia tecnológica, dificultando-lhes o acesso a bens e serviços essenciais.
Para responder a estas preocupações, cerca de dois terços dos participantes no estudo apoiam a implementação de fiscalizações regulares nos estabelecimentos comerciais, de modo a garantir o cumprimento da lei sobre o direito ao pagamento em numerário.
Há quem não apoie os pagamentos em numerário
Por outro lado, 9% dos inquiridos defende explicitamente o desaparecimento do dinheiro físico, enquanto 17% considera que esta forma de pagamento é ‘desnecessária’. A larga maioria, porém, continua a ver valor na existência do dinheiro em papel e moeda.
O estudo também revela que 89% dos portugueses acreditam que o Estado deve facilitar o acesso a dinheiro vivo. Entre os inquiridos, 46% apontam o Banco de Portugal como a entidade que deveria assumir a responsabilidade de proteger a existência do dinheiro vivo.
Denária Portugal pede liberdade de escolha nos pagamentos
Estas conclusões reforçam o apelo de várias organizações para que seja garantida a aceitação do dinheiro físico por lei. A Denária Portugal (associação de defesa da utilização do numerário como meio de pagamento corrente), por exemplo, argumenta que a liberdade de escolha nos pagamentos deve ser preservada.
Com a transição digital em curso, o debate sobre o futuro do dinheiro físico está longe de estar encerrado. Se, por um lado, as empresas procuram modernizar os seus serviços, por outro, grande parte da população continua a depender do dinheiro físico no seu dia a dia.
A tendência para a recusa de pagamentos em dinheiro físico pode ter consequências sociais significativas, especialmente para os grupos mais vulneráveis. A questão que se impõe agora é se o Estado irá intervir para garantir que o dinheiro vivo continue a ser um meio de pagamento acessível a todos.
TAP e Ryanair manêm-se firmes na sua política de pagamentos
Enquanto a discussão prossegue, companhias aéreas, como a TAP e a Ryanair, mantêm-se firmes na sua política de pagamentos exclusivamente digitais. Trata-se de uma decisão que não vai ao encontro das preferências da maioria dos portugueses, já que muitos continuam a optar pelos pagamentos em numerário, mesmo existindo opções de pagamento mais seguras e eficientes.
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