Representando uma parte significativa da biomassa animal terrestre, as formigas vivem em colónias numerosas e em espaços reduzidos. No entanto, conseguem manter-se protegidas contra a propagação de doenças dentro das suas comunidades.
Estima-se que as formigas constituam entre 15 a 20% de toda a biomassa animal terrestre e, em algumas regiões tropicais, essa percentagem pode ultrapassar os 25%, segundo a Stars Insider. Apesar da elevada densidade populacional nos ninhos, as epidemias são raras entre estes insetos.
Alteração de comportamentos
Um estudo de 2018 analisou o comportamento de colónias de formigas-do-jardim quando expostas a esporos infeciosos. Os investigadores observaram que os insetos modificavam os seus hábitos para reduzir o contacto entre os diferentes grupos dentro da colónia.
As colónias são compostas por formigas que trabalham dentro do ninho e por aquelas que saem para procurar alimento. Quando os cientistas expuseram os ninhos ao agente patogénico, verificaram que as formigas interagiam mais entre si e menos com os outros grupos.
Esta mudança de comportamento reduziu a propagação do patógeno dentro da colónia, funcionando como uma estratégia eficaz para conter a doença.
Priorização
Além disso, as formigas deram prioridade à proteção dos indivíduos mais importantes para a sobrevivência do grupo: a rainha e as formigas jovens. Dessa forma, garantiram a continuidade da colónia mesmo em situações adversas.
Outra observação feita pelos investigadores foi que algumas formigas expostas a doses reduzidas de patógenos desenvolveram uma resposta imunológica mais forte. Esse mecanismo é semelhante ao princípio das vacinas utilizadas nos seres humanos.
Hábitos rigorosos
As formigas também mantêm hábitos rigorosos de higiene dentro do ninho. Um estudo publicado no Journal of Evolutionary Biology mostrou que estes insetos praticam a chamada allogrooming, um comportamento em que limpam umas às outras para remover partículas potencialmente infeciosas.
Investigadores na Áustria descobriram que as formigas ajustam os cuidados de higiene com base no nível de infeção das suas companheiras. Quando um indivíduo apresenta sinais de exposição a múltiplos agentes patogénicos, as formigas aumentam a utilização de ácido fórmico, um composto antimicrobiano produzido nas suas glândulas de veneno.
Substâncias com propriedades antifúngicas
Além da limpeza do próprio corpo, algumas espécies de formigas utilizam substâncias naturais com propriedades antifúngicas dentro do ninho. As formigas-do-bosque, por exemplo, recolhem resina de árvores e colocam-na perto das crias, provavelmente devido ao seu efeito antimicrobiano.
Um estudo sugere que essas formigas combinam a resina com ácido fórmico, criando um composto ainda mais eficaz na prevenção de infeções fúngicas dentro do ninho.
Outras espécies adotam medidas mais extremas. Em algumas situações, estes animais eliminam ou expulsam indivíduos infetados do grupo para evitar que a doença se propague.
As formigas invasoras do jardim demonstraram um comportamento adicional de proteção ao pulverizar ácido fórmico no interior do ninho, reduzindo o risco de contaminação.
Casulo que dá proteção
Segundo investigadores do IST Áustria, algumas pupas são resistentes ao ácido fórmico devido ao casulo protetor que as envolve. Os cientistas compararam este mecanismo à utilização de luvas de proteção pelos seres humanos durante processos de desinfeção.
Os comportamentos das formigas mostram como algumas estratégias naturais podem ser eficazes na contenção de surtos dentro de comunidades densamente povoadas.
De acordo com Nathalie Stroeymeyt, investigadora da Universidade de Bristol, alguns princípios selecionados ao longo da evolução podem servir de inspiração para estratégias de contenção de epidemias em seres humanos.
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