O Fórum da Democracia no Parlamento Europeu, em Bruxelas, reuniu 600 pessoas vindas de 23 países. Um número impressionante, mas que não apaga a sensação de que continuamos a discutir democracia num espaço onde, demasiadas vezes, ela é tratada como conceito académico e não como prática viva. E foi exatamente isso que senti ao ouvir o discurso de Roberta Metsola.
A presidente do Parlamento Europeu falou sobre o voto como extensão da democracia e sobre as instituições estarem a sair da bolha de Bruxelas e Estrasburgo. A frase soa bem, mas é isso mesmo: uma frase. Dita por alguém que, pelo lugar que ocupa, vive inevitavelmente dentro dessa bolha e parece não se aperceber de quão espessa ela se tornou. O Parlamento Europeu não chega às pessoas. Não chega às periferias. Não chega às escolas. Não chega aos trabalhadores. Não chega sequer aos cidadãos politicamente atentos que, apesar de o tentarem, continuam a sentir a União como um labirinto distante. A maior fragilidade da Europa está precisamente aqui: não temos esfera pública europeia, não temos comunidade construída, não temos um conhecimento acessível e partilhado sobre o funcionamento da UE. E sem isso não há democracia, há apenas retórica.
Por isso, quando Metsola apresenta como “acordo democrático” a votação em que o PPE decidiu juntar-se à extrema-direita e à direita radical para cortar legislação do Green Deal, só reforça a impressão de que o discurso institucional perdeu contacto com a realidade. Quem acompanha a política europeia sabe que aquilo não foi consenso, não foi transversalidade, não foi pluralidade democrática. Foi estratégia. Estratégia pura, usada pelo PPE sempre que precisa de reposicionar-se para não perder influência. A diferença é que desta vez o preço é maior: rompe-se o eixo GAL-TAN que tem estruturado o Parlamento e abre-se um precedente político que normaliza alianças perigosas. Chamar a isto democracia é, no mínimo, confundir a palavra com oportunismo.
Depois houve Aguiar-Branco. E aqui, curiosamente, foi Portugal quem trouxe uma lufada de ar fresco. O presidente da Assembleia da República disse algo simples mas essencial: a democracia deixou de ser um dado adquirido. Não é eterna, não é automática, não se conserva sozinha. E foi mais longe ao apontar aquilo que raramente é dito com frontalidade: os políticos vivem numa torre de marfim. Não fazem trabalho de campo, não ouvem, não se envolvem com quem está fora do círculo político. A democracia esvazia-se quando é praticada só entre iguais.
Mas foi na questão da juventude que disse o mais importante. Não precisamos de ações de pedagogia sobre democracia. Precisamos de coautoria democrática. Os jovens não precisam que lhes expliquem democracia como se fosse uma disciplina escolar. Precisam de espaço para a exercer, precisam de responsabilidade, precisam de ser tratados como agentes políticos e não como mascotes institucionais. A ideia de criar um Parlamento Europeu dos Jovens não é só interessante; é urgente. É finalmente a admissão de que não basta “integrar jovens”, é preciso fazê-los participar na construção real das decisões.
A democracia não se faz com discursos sobre proximidade. Faz-se com presença. Com contacto. Com humildade para admitir que ninguém sabe tudo e que o poder, quando se isola, perde o sentido. Talvez esteja na hora de quem dirige a Europa descer da sua torre de marfim e começar a ouvir. Os jovens, sim, mas também todos os outros que não se revêm nesta Europa que fala de si própria mais do que fala com as pessoas.
A democracia só funciona quando é partilhada. E, neste momento, partilha é precisamente aquilo que falta.
David Heijselaar tem 21 anos, nascido e criado em Lagos, onde viveu até aos 17 anos, idade com a qual foi estudar para Lisboa. O seu interesse sobre a UE surgiu através do programa do EPAS, o qual participou com a sua escola secundária.
Atualmente, encontra-se a frequentar a licenciatura em Estudos Europeus e Relações Internacionais na Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa.
Durante a licenciatura já participou em diversas atividades relacionadas com o curso, nomeadamente o EYE2023, o qual lhe permitiu viajar até Estrasburgo e conectar-se com a política europeia.
Interessa-se sobre política nacional e europeia e espera um dia vir a ter uma voz que faça diferença no mundo.
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