A história de Alessia, uma mulher italiana licenciada em Pedagogia com uma pensão de 346 euros, que acabou a viver na rua depois da morte da mãe e da rutura com a irmã, comoveu o país e despertou uma onda de solidariedade inesperada. A sua história, contada pelo jornal La Nazione, tornou-se símbolo da precariedade e da exclusão social que afetam milhares de pessoas na Europa, mesmo aquelas com formação superior.
Alessia, mulher licenciada de 59 anos, sobrevive com uma pensão mensal de 346 euros. Dorme em bancos de jardim, usa a mochila como almofada para não ser roubada e depende de comedores sociais. Apesar da licenciatura, não consegue emprego: enviava currículos sem resposta, sendo ignorada pela idade e pela falta de oportunidades. “Vivo na rua, sem dinheiro para comer e sem esperança”, contou.
Uma vida revirada pela solidariedade
A morte da mãe e o afastamento da irmã precipitaram a sua queda na indigência. Alimentava-se em instituições como a organização internacional de inspiração católica dedicada ao apoio social, humanitário e comunitário Cáritas, e usava a pensão para despesas básicas. Quando a sua história se tornou pública, centenas de pessoas em Itália procuraram-na para oferecer trabalho, alojamento e até ajuda financeira. A solidariedade fez renascer a esperança de reconstruir a vida.
Alessia garante estar disposta a trabalhar “no que for”, embora rejeite empregos que impliquem cuidar de idosos dependentes, pois essa função fá-la recordar o período em que tratou da mãe doente. Pede, contudo, que qualquer oportunidade inclua também o seu companheiro, também sem-abrigo. “Estou apaixonada por ele e não temos intenção de nos separarmos. Ele é ex-operário e teve empregos precários”, explicou à mesma fonte
O casal, que vive na rua há meses, enfrenta o inverno com mantas e sacos-cama oferecidos pela Cáritas. “Estamos a preparar-nos para o frio, com o pouco que temos”, disse. Ainda assim, Alessia não perde o otimismo: “Estou convencida de que começarei o ano de 2026 com um emprego e a celebrar o meu casamento.”
Força de recomeçar
A mulher, com uma pensão de 346 euros, sente-se surpreendida com o apoio recebido. “A reação das pessoas surpreendeu-me de forma positiva, não estava à espera”, afirmou. Está agora em contacto com várias pessoas que se ofereceram para ajudá-la e aguarda resposta das promessas de casa e trabalho. “Estamos inscritos numa empresa de trabalho temporário e espero que nos liguem em breve.”
Enquanto aguarda, tenta manter-se positiva, de acordo com o La Nazione. “Não tenho casa, também não tenho trabalho e o futuro assusta-me, mas acredito que este será o melhor Natal da minha vida, ao lado da pessoa que amo.”
E se acontecesse em Portugal?
Se um caso idêntico ocorresse em Portugal, a situação de Alessia seria enquadrada de forma específica pela Lei de Bases da Segurança Social (Lei n.º 4/2007, de 16 de janeiro), que garante proteção nas situações de carência económica e exclusão social.
Seria também abrangida pela Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), aplicada localmente através dos Núcleos de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA), que articulam respostas entre a Segurança Social, as autarquias, os serviços de saúde e entidades da economia social, como a Cáritas ou as Misericórdias. Podia ainda aderir a alguns programa do IEFP.
Em caso de insuficiência económica mais grave, poderia ainda aceder ao Rendimento Social de Inserção, regulado pelo Decreto-Lei n.º 13/2013, de 25 de janeiro, sempre acompanhado de um plano de inserção social e profissional.
Questão da habitação
A falta de habitação enquadrar-se-ia também na Lei de Bases da Habitação (Lei n.º 83/2019, de 3 de setembro), que consagra o direito a uma habitação condigna e impõe ao Estado medidas de emergência habitacional, incluindo alojamento temporário. A reintegração laboral passaria pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), com programas de emprego e formação dirigidos a pessoas em vulnerabilidade social.
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