- Por João Tavares
A população da freguesia de Santa Luzia, em Tavira, vive em sobressalto com a existência de várias antenas de telecomunicações instaladas naquele local desde 2003.
Equipamentos que estão colocados num pinheiro artificial, a poucos metros de habitações do Bairro Social, quando os regulamentos dizem que estes devem estar longe de zonas habitacionais. E o descontentamento de quem vive junto a estas antenas assenta num só ponto: a população relaciona a existência daqueles equipamentos com o número crescendo de casos de cancro entre a população.
Nos últimos anos fala-se em aproximadamente 30 casos de doença, em que metade das pessoas já terão falecido. E muitas continuam a lutar contra a doença.
Um cenário que levou a presidente da Junta de Freguesia de Santa Luzia a apresentar um abaixo-assinado no passado mês de maio na Câmara Municipal de Tavira. Carla Martins, eleita pelo PS, mostrou-se indisponível para falar com o Postal do Algarve [ler mais à frente “Presidente da Junta em silêncio”] e a presidente da Câmara, Ana Paula Martins, também ela socialista, disse à nossa reportagem já ter pedido no passado mês de agosto esclarecimentos à Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM).
Logo após a instalação destes equipamentos alguns populares fizeram sentir a sua voz de descontentamento. Mas o número de antenas não diminuiu. Pelo contrário. “Recentemente uns senhores vieram aqui para instalar mais antenas, mas várias pessoas insurgiram-se e eles foram-se embora. Mas mais tarde, sem ninguém perceber, voltaram e acabaram o trabalho”, contou ao Postal do Algarve Carlos Belhy, ex-presidente da Junta e atual vereador autárquico sem pelouro atribuído.
“As pessoas agem assim porque têm medo do que lhes possa acontecer. Muitos têm morrido nos últimos tempos”, conta uma das vozes que mais se faz ouvir contra a existência das antenas na proximidade das habitações. “Nós sabemos que as antenas são necessárias, mas coloquem-nas longe daqui. Estas pessoas precisam de viver descansadas”.
Um dos casos que mais chocou a comunidade foi o diagnóstico de doença oncológica numa criança, na altura de apenas seis anos, neta de um conhecido médico da freguesia e que levou os pais da menor a abandonarem a casa onde até então a família vivia.
Segundo Carlos Belhy, a presidente da Câmara Municipal de Tavira tem sido confrontada com esta realidade em diversas assembleias municipais. “Ela disse que não pode fazer nada, pois o terreno é privado, mas isso não é justificação. A lei também diz que a última palavra é da presidente da autarquia, que confirmou não ter autorizado recentemente a instalação de quaisquer antenas”.
O vereador defende que devem ser pedidas explicações às entidades responsáveis pelas antenas e exige mais fiscalização e a retirada urgente das polémicas antenas. Segundo o antigo presidente da Junta, apenas as primeiras antenas terão sido colocadas com autorização camarária, há cerca de 20 anos. “Chegaram a ir a minha casa fazer medição de radiação, que atingia com mais intensidade o quarto da minha filha.
Quando saíram os resultados, disseram-me que os níveis de radiação eram muito baixos e que não podiam provocar quaisquer danos, mas também nunca ninguém me mostrou essas conclusões”, relata Carlos Belhy, também ele proprietário de uma casa junto às antenas.
Autarquia quer saber quais os riscos para a população
A presidente da Câmara Municipal de Tavira, em resposta a algumas questões colocadas pelo Postal do Algarve relacionadas com os receios da população do Bairro Social de Santa Luzia, confirmou que “as instalações de infraestruturas das estações de radiocomunicações estão licenciadas desde 2003 nos termos do DL n. 11/2003”, avançando ainda que “o detentor dessa estrutura não deu entrada no município de qualquer comunicação no que toca à substituição das antenas”.
Assim sendo, Ana Paula Martins pediu ao serviço de fiscalização da Câmara para que “tente identificar a sociedade que desenvolve a instalação e exploração das antenas, de modo que seja endereçado um pedido de esclarecimentos sobre os equipamentos em causa, nomeadamente as características técnicas”.
A finalizar, a autarca diz ter solicitado à ANACOM, a 8 de agosto do presente ano, “vários esclarecimentos de modo a aferir do risco para a saúde da população, em especial dos residentes nas proximidades” das antenas.
Presidente da Junta em silêncio
O Postal do Algarve achou importante ter um testemunho da atual presidente da Junta de Freguesia de Santa Luzia, não apenas por ser representante da população local, como também pelo facto de ter sido quem entregou, em maio, na Câmara Municipal de Tavira, o abaixo-assinado subscrito por vários dos moradores contra a existência no local das polémicas antenas.
E a nossa reportagem contactou por duas vezes – em dias seguidos – com Carla Martins, por telemóvel, em que a mesma, por questões de agenda, marcou uma hora para que a voltássemos a contactar. Mas à hora combinada, e em ambos os dias, o telemóvel encontrava-se desligado. Insatisfeitos com esta realidade, a nossa reportagem ainda enviou uma mensagem escrita à presidente da junta, reiterando a nossa vontade em saber o que tinha a dizer.
Em tempo oportuno não recebemos qualquer resposta ao SMS ou telefonema de retorno.
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