Os preços da habitação em Portugal mais do que duplicaram na última década, com aumentos significativos no Algarve, Lisboa e Porto, revelou um estudo da associação Causa Pública divulgado esta semana.
De acordo com o documento, os preços das casas em Portugal registaram uma variação real (acima da inflação) de 81% entre 2013 e 2023, um aumento mais de duas vezes superior à média dos países da OCDE (40%) e quatro vezes maior do que o verificado na Zona Euro (20%).
O estudo, coordenado pelo economista português Guilherme Rodrigues, destaca que o Algarve está entre as regiões onde os preços mais cresceram. Esta escalada, fortemente influenciada pelas dinâmicas turísticas, contribuiu para que a região registasse uma das maiores taxas de sobrecarga habitacional do país.
Segundo o relatório, muitos agregados familiares no Algarve enfrentam despesas de habitação superiores a 40% do seu rendimento, uma situação que reflete a pressão imobiliária crescente.
Crise habitacional afeta acessibilidade e rendimentos
A análise indica que os rendimentos dos portugueses não acompanharam o aumento dos preços das casas, crescendo apenas 0,9 pontos percentuais acima da inflação, enquanto os preços da habitação subiram, em média, 6,1 pontos percentuais por ano. Esta discrepância agravou o índice de acessibilidade habitacional em Portugal, colocando o país no topo da OCDE em termos de deterioração das condições de acesso à habitação.
No Algarve, esta tendência é particularmente evidente, com a procura por habitação impulsionada pelo turismo e por investimentos externos. O aumento médio anual dos preços na região foi de 7,2% entre 2013 e 2024, tornando-se uma das áreas mais afetadas pela crise habitacional, a par das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Impacto metropolitano e turístico
A Causa Pública sublinha que a crise habitacional portuguesa tem um caráter essencialmente metropolitano, incidindo de forma mais acentuada nas áreas urbanas e no Algarve. Enquanto Lisboa é apontada como o epicentro da crise devido à concentração de população e de atividade económica, o impacto no Algarve está mais associado à pressão turística, que eleva os preços do mercado imobiliário e dificulta o acesso à habitação para residentes locais.
Regiões como o Alto Tâmega e Barroso, o Douro e o Alto Alentejo registaram, em contraste, aumentos de preços muito inferiores à média nacional, demonstrando disparidades regionais na evolução do mercado habitacional.
Urgência de intervenção política
O estudo aponta ainda que, ao contrário de países como o Canadá e a Nova Zelândia, que implementaram políticas para limitar a compra de imóveis por não residentes, Portugal não adotou medidas semelhantes. A associação defende a necessidade de uma intervenção pública urgente para travar a escalada dos preços, reforçando a regulação do mercado e aumentando o parque habitacional público e social.
A crise habitacional, segundo a Causa Pública, é um dos principais desafios económicos e sociais que Portugal enfrenta atualmente, com impacto significativo na qualidade de vida e na igualdade de oportunidades em regiões como o Algarve.
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