A editora LIDEL apresentou esta quarta-feira, dia 30 às 21 horas, na Fnac de Faro, no Forum Algarve, o livro “Saber Envelhecer: Uma viagem pela Saúde dos Seniores”, da autoria de Armando de Medeiros, médico de família aposentado.
O livro foi apresentado por Assunção Martinez, médica de família aposentada que, para além de funções clínicas, foi presidente do Conselho Diretivo da ARS do Algarve, e por Fernando Batista, engenheiro civil aposentado, que fez toda a sua carreira profissional no Japão, na Kawazaki Steel Corporation.
“Saber Envelhecer – Uma Viagem pela Saúde dos Seniores” é um livro que procura ajudar os idosos, os seus cuidadores e todos os profissionais de saúde a compreender as alterações do envelhecimento e a lidar com o avançar da idade. Esta obra conta com o conhecimento médico e experiência de quem já passou e continua a passar pelo processo de envelhecimento, recorrendo a uma linguagem simples e acessível, utilizando situações do quotidiano para exemplificar as ideias e conceitos, destacando conselhos e dicas, tais como:
– Pratique exercício físico regular, adaptado às suas condições de saúde;
– Exercite o cérebro, executando tarefas como estudar, ler, escrever ou praticar jogos de tabuleiro;
– Deixe de fumar! Vai reduzir os sintomas incomodativos, como a tosse, a expetoração e a pieira, e reduzir as infeções respiratórias;
– Coma alimentos ricos em fibras, como vegetais e leguminosas;
– Tire os óculos de ver ao perto sempre que for descer escadas;
– Se tiver uma audição reduzida, tente adaptar-se a um aparelho auditivo, mas sem fazer investimentos excessivos;
– Se tiver de andar com o auxílio de uma bengala ou andarilho, não deixe que isso o impeça de caminhar.
Armando de Medeiros na 1ª pessoa: discurso do autor na apresentação do livro
Tomei consciência da importância da prevenção primária em saúde quando tinha 17 anos, ao ouvir o meu avô paterno – que via muito mal desde a sua juventude, o que não o impedia de viajar sozinho, embora não conseguisse ir ao cinema, nem ver televisão – protestar contra o facto das escadas, tanto em locais públicos, como privados, não terem nenhuma sinalética (uma fita, por exemplo) que permitisse que essas escadas fossem identificadas por quem tem uma reduzida acuidade visual, como era o seu caso.
São pormenores como este, aparentemente insignificantes, que podem ter um grande impacto na vida de muitas pessoas.
Um idoso que caia numas escadas, mesmo que tenham apenas 2 ou 3 degraus, está em grande risco de fazer uma fractura do colo do fémur e ver a sua qualidade de vida diminuir muito significativamente, podendo mesmo passar a uma situação de dependência para as atividades da vida diária, com um grande impacto pessoal, familiar e social.
As pessoas mais novas têm ideia que a terceira idade é uma maçada, com dores aqui e ali, e, talvez, alguma solidão.
Têm toda a razão!
Mas podemos minimizar esses aspetos desagradáveis da velhice, temperando-os com uma generosa quantidade de condimentos, que ajudem a movimentar o corpo e exercitar a mente.
Eu gosto de fazer comparações com termos culinários, porque comer é um prazer que, na maioria dos casos, se prolonga ao longo da vida.
É devido a este facto que costumo aconselhar médicos mais novos e cuidadores de pessoas idosas a não estabelecerem dietas demasiado restritivas a pessoas em que a esperança de vida se mede em anos e não em décadas.
Ao longo da minha vida clínica tive alguns episódios mais ou menos caricatos. Relembro aqui um deles que se passou à cerca de 30 anos, e que não é referido no livro:
A cena passou-se no Centro de Saúde de Estói. Estava a iniciar uma consulta a um sénior de mais ou menos 70 anos de idade, que era um pouco hipocondríaco. Perguntei-lhe como tinha passado desde a última consulta. Para meu espanto, ele respondeu-me um pouco rispidamente, nos seguintes termos:
O Sr. Dr. não sabe o que eu tenho, mas fui ao endireita e ele diagnosticou-me 3 doenças: artrosa, nervosa e escandalosa.
O contacto quase diário com utentes das mais variadas origens culturais e sociais, durante 4 décadas, permitiu-me aperceber do elevado grau de iliteracia em saúde que existe em várias camadas da sociedade portuguesa. Neste contexto, considero positivo todas as ações sérias que possam contrariar essa tendência.
Neste livro pode encontrar explicações que ajudam a compreender alguns fenómenos do envelhecimento, dicas importantes para o dia a dia de idosos e cuidadores, conselhos relativos à preparação da reforma e curiosidades que podem surpreender a leitora ou o leitor:
Dou alguns exemplos:
- Vai conhecer uma particularidade comum a Maria Antonieta e a Barack Obama.
- Vai descobrir que o espírito de Las Vegas pode ser importante quando se aborda a sexualidade nos seniores.
- Sabia que o nosso organismo é proprietário de um condomínio?
- Tem ideia que uma pessoa com diabetes deve ser, ao mesmo tempo, gourmet, ecologista, gestor (ou gestora) e atleta?
Um dos capítulos do livro, a que chamei “Polifarmácia”, centra-se na cautela que devemos ter com a medicação do idoso, evitando que, sempre que possível, não tomem um número muito elevado de fármacos, de modo a minimizar os efeitos secundários e as interações entre eles.
No capítulo “Mitoses Atípicas”, dedicado às doenças oncológicas, reforço o papel dos rastreios de cancro, nomeadamente do cancro da mama, do colo do útero e do cólon e reto, que são fundamentais para se diagnosticar precocemente alterações que podem evoluir para cancro ou uma doença oncológica já instalada, mas ainda num estadio inicial.
Aproveito o facto de estar a falar de cancro para fazer uma pequena homenagem ao Dr. Santos Pereira, um cirurgião com quem tive o gosto de conviver durante o meu internato policlínico, no Hospital de Faro, que se iniciou há mais de 40 anos.
O Dr. Santos Pereira, que já nos deixou há alguns anos, foi um grande dinamizador do rastreio do cancro da mama, a nível regional, da consulta de Senologia no Hospital de Faro e o fundador da Associação Oncológica do Algarve, que tão bons serviços tem prestado.
Uma significativa percentagem de factores de risco das mais diversas patologias podem ser minimizados através de alterações no estilo de vida e essas alterações só dependem de nós e dos nossos comportamentos. Neste caso, a responsabilidade é nossa. Não podemos pôr a culpa nos políticos.
Dito isto, considero que as autarquias deveriam ter uma maior preocupação com a transmissão de saberes que os mais velhos podem proporcionar, nomeadamente através da dinamização de centros de artes e ofícios e, também, do convite a seniores com alguma experiência no ramo, a fazerem trabalhos de jardinagem nas aldeias, vilas e cidades. Este tipo de atividade, embora aparentemente física, é ótimo para estimular a mente e um excelente preventivo para a depressão.
Por outro lado, o Estado poderia fazer muito mais do que o que faz, por exemplo, através da criação de uma rede de centros de dia que acolhessem os idosos enquanto os seus familiares se encontram a trabalhar.
Como já referi noutro contexto: planear é preparar o futuro, adiar é negar esse mesmo futuro.
Por outras palavras, os comportamentos que tivermos ao longo da nossa existência vão refletir-se, de uma maneira positiva ou negativa, na qualidade com que vamos disfrutar nas últimas décadas de vida.
Devemos encarar a velhice e a finitude da vida de uma forma positiva, tentando ser o protagonista da nossa existência e não um mero figurante.
A propósito do lançamento deste livro, tenho sido convidado para escrever pequenos textos ou responder a algumas perguntas sobre o envelhecimento. Uma das questões colocadas, foi a seguinte: Qual a melhor dica que daria a quem cuida de um idoso?
Gostaria que pensassem um pouco relativamente a esta questão. Que resposta dariam?
A minha resposta foi mais ou menos esta:
Tratem os idosos com dignidade. Quanto mais frágil for uma pessoa, mais respeito devemos ter por ela.
Ao finalizar, gostaria de fazer um apelo aos pais e aos avós aqui presentes:
Abram a “biblioteca” do vosso conhecimento aos filhos e aos netos, transmitindo-lhes o legado da vossa experiência de vida.
Como digo no final do livro:
“Nem todas as pessoas têm a possibilidade de deixar bens tangíveis, mas podem transmitir valores de honestidade, respeito e cidadania que possam ser como a semente de uma flor, que germine, se desenvolva e seja colhida pelas próximas gerações”.
Sobre Armando de Medeiros
Licenciado em Medicina, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e pós-graduado em Avaliação Económica dos Medicamentos, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão. Foi assistente graduado sénior da carreira médica de Clínica Geral, estando, atualmente, aposentado.
Armando de Medeiros foi médico de família da Extensão de Estoi e da Unidade de Saúde Familiar Al-Gharb do Centro de Saúde de Faro, médico do Estabelecimento Prisional de Faro, coordenador da Unidade de Saúde Familiar Al-Gharb do Centro de Saúde de Faro, presidente da Comissão de Farmácia e Terapêutica da ARS do Algarve, responsável pela Direção de Serviços de Saúde da ARS do Algarve, representante da ARS do Algarve na Comissão de Coordenação do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes, centralizada na DGS, e representante da ARS do Algarve na Comissão do Uso Racional do Medicamento, centralizada no Infarmed.