O Turismo é, claramente, uma actividade económica com uma envolvente e variedade de situações, designadamente de índole cultural e social, substancialmente diferente de outros sectores económicos.
A actividade turística, enquanto sistema humano complexo que é, exige uma abordagem mais rigorosa e científica no que se refere à qualificação e especialização dos seus recursos humanos, especialmente no respeitante às vertentes produção, distribuição e consumo.
A formação profissional desempenha, neste sector económico, um papel mais decisivo e determinante do que em outras actividades produtivas
De facto, e ao fazer intervir o Homem, o Turismo estabelece um conjunto de relações das quais depende a satisfação do turista/consumidor e, por essa via, o sucesso de toda a indústria. Por tudo isto, a dimensão humana do Turismo assume-se como a condição primeira para o seu sucesso, podendo, simultaneamente, representar uma barreira ao seu desenvolvimento.
Neste contexto, a formação profissional desempenha, neste sector económico, um papel mais decisivo e determinante do que em outras actividades produtivas.
O Algarve acumulou ao longo dos anos um déficit grave nesta matéria, resultante da incapacidade de as estruturas responsáveis nesta área formarem em quantidade e qualidade profissionais suficientes para satisfazer as necessidades empresariais.
Daí que se imponha definir uma estratégia que vise a formação e valorização socioprofissional de activos, através da implementação de programas de formação contínua nas empresas, para além de incrementar a formação básica nas Escolas de Hotelaria e Turismo, condições indispensáveis para esbater e suprir as graves carências actualmente existentes.
Acresce que o facto de a formação profissional no turismo ser da responsabilidade do Turismo de Portugal e das diversas políticas governamentais de emprego, nomeadamente a formação subsidiada, ser da competência do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), têm impedido uma articulação real e efectiva entre estes dois organismos, dependentes de Ministérios diferentes.
Esta realidade tem inviabilizado o estabelecimento de sinergias, com nítido prejuízo para a formação no sector do turismo quando comparado com os outros sectores da vida económica portuguesa, porventura menos estratégicos e prioritários da nossa economia.
Os novos métodos de gestão empresarial caracterizam-se, cada vez mais, por uma descentralização das decisões, situação que obriga os trabalhadores do turismo a assumir responsabilidades ao nível da organização, realização e controlo do seu trabalho de uma forma mais autónoma, tornando-se, por isso mesmo, necessário combinar as suas qualificações tradicionais com a actualização de novos conhecimentos, tendo em vista aumentar, por um lado, a sua produtividade e, por outro, a competitividade das empresas, face a um mundo em constante mutação e onde o fenómeno da globalização das economias e dos mercados se apresenta irreversível.
Assim, e independentemente das reformas e mudanças que é preciso introduzir na formação profissional básica, uma vez que a melhor estratégia de recursos humanos é aquela que privilegia o investimento na educação pré-escolar, e atendendo a que o sistema de ensino no nosso país, particularmente no secundário e médio, não se encontra vocacionado para produzir jovens suficientemente preparados para o mundo do trabalho, penso que se torna urgente a introdução de medidas que tenham no horizonte uma maior ligação entre as empresas e as escolas secundárias e médias, por forma a adequar a formação às necessidades da chamada economia real.
Está em causa a valorização socioprofissional dos trabalhadores, mas também e, muito principalmente, uma maior estabilidade no emprego, reduzindo situações de exclusão social em algumas zonas marcadamente sazonais, como é o caso do Algarve, promovendo mais emprego, através de uma maior fidelização dos trabalhadores às empresas e ao turismo, via formação contínua, permitindo, deste modo, obter ganhos de produtividade e aumentar a prestação competitiva das empresas. E isto porque a melhoria da qualidade dos serviços prestados constitui a base e os grandes alicerces para um bom desempenho da actividade turística.
Este objectivo só será possível com mais e melhor formação profissional. O estabelecimento de parcerias entre os organismos do Estado e os privados é essencial, diria mesmo determinante, para o sucesso e cumprimento de um desiderato, cuja responsabilidade é de todos nós.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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