Concorreu sob o lema “Por uma AHETA abrangente e renovada” e contou com o apoio de vários ilustres do turismo nacional e regional, entre os quais o empresário e pai do turismo português André Jordan. Hélder Martins teve a maior votação de sempre e venceu Elidérico Viegas, que presidia à associação desde a sua criação, em 1996. As rotas da TAP, as acessibilidades com problemas na EN125 e uma autoestrada com portagens caras “inimigas do turismo”, são os temas da ordem do dia. Mas há mais.
Na sua tomada de posse disse que “abre-se um novo capítulo na região algarvia”. De que desafios estava a referir-se?
Quanto existe uma mudança na liderança de um organismo são esperadas novas dinâmicas. A AHETA é uma associação transversal à atividade turística em toda a região e deve estar na primeira linha de defesa dos interesses dos seus associados. Quando existe uma nova liderança verificam-se novas formas de abordar as questões, as pessoas têm mais vontade de trabalhar, sem comodismos nem baixar os braços. Assim, quando pela primeira vez, ao fim de quase 30 anos, há uma mudança nos corpos sociais da AHETA é de esperar tudo isso. Além de um acompanhamento integral das questões que os nossos associados quiserem colocar-nos, pretendemos atuar na área da formação profissional, acompanhamento de possibilidades de financiamento às empresas, seremos reivindicativos exigindo sempre mais e melhor promoção do destino, estaremos com as empresas apoiando a resolução de problemas, por exemplo, na área jurídica e estaremos sempre presentes junto das entidades, públicas e privadas para vincar as nossas posições.
Algumas das propostas que aqui evidenciou já existiam como ‘problemas’ no tempo que era presidente da Região de Turismo do Algarve. O que é que falhou?
De facto, alguns dos problemas mantêm-se há muitos anos e outros agravaram-se. O Algarve é uma região com pouco peso político, junto da capital, onde o centralismo não permite que se resolvam alguns dos problemas estruturais. E às vezes quando os tentam resolver, ainda os agravam mais, veja-se o caso da EN 125, onde continua a existe dois “Algarves”, um entre Olhão e Sagres, em que pelo menos o piso foi melhorado, mas os estrangulamentos continuam ou agravaram-se e entre Olhão e Vila Real de Santo António, onde parece que estamos noutro país. Será que os utentes desta 125, pré-histórica, cometeram algum crime que mereçam ser “castigados”? Será que os impostos que todos pagamos não são os mesmos? E mesmo que todos os responsáveis tentem revindicar junto do poder central responsável por essas decisões é sempre encontrada uma qualquer resposta enganadora para manter a situação na mesma. O problema da acessibilidade aérea, através da chamada “companhia de bandeira” continua exatamente na mesma, sendo que, mesmo algumas rotas que a TAP fazia da Europa para Faro, com grande afluência de turistas, mesmo essas foram anuladas. E todos nós pagamos para “salvar” a companhia! Mas temos uma transportadora que claramente não serve o Algarve.
O que identifica como sendo os maiores problemas da nossa região?
O problema da acessibilidade está no topo dos problemas da região em que para além da EN125 atrás citada, a Via do Infante é uma via com portagens caras e, no aspeto do turismo é inimiga dos turistas. Veja-se as filas de trânsito sempre que há uma maior afluência de turistas ao Algarve, vindos de Espanha. Só agora se verificaram algumas intervenções na melhoria do pavimento e não permite o descongestionamento da 125.
A via férrea é outro dos problemas que se mantém há tantos anos. Só ao fim de muitos, muitos anos tivemos a linha férrea que nos liga a Lisboa eletrificada, mas a frequência de comboios, mais ou menos rápidos, é escassa. A linha que une Vila Real de Santo António a Sagres é digna de um país do chamado terceiro mundo. A qualidade dos comboios é a que se vê e a tão falada linha de metro de superfície é uma miragem que surge sempre que há atos eleitorais e depois esfuma-se. A não ligação desta linha de metro de superfície ao aeroporto é outra das lacunas que persiste ano após ano. A importância da ligação de uma linha férrea a Huelva e Sevilha também só é falada nos períodos eleitorais, mas, pessoalmente não me parece que, mesmo que do lado português fosse um projeto para avançar, tivesse igual decisão do lado espanhol.
A questão da saúde para algarvios e turistas é outra questão muito importante. Por haver eleições mais uma vez foi prometido o tão ansiado Hospital Central do Algarve, mas, só faltou ter outra “primeira pedra”…
Temos sempre muitos estudos, mas acções concretas muito poucas
A falta de recursos humanos, em muitas áreas, que não só no turismo, na minha opinião, tem muito a ver com a dificuldade e custos de obter habitação condigna para os trabalhadores que se queiram fixar na região. A dificuldade em obter por exemplo um lugar num estabelecimento de ensino para as crianças, filhas dos trabalhadores, é outra questão que não encoraja a mudança para a nossa região. Mas este é um problema transversal ao país. Nalguns casos a legislação que apoia os desempregados também é um entrave.
Questões como a falta de água e a não tomada de decisões rápidas para resolver esse problema em definitivo. Se há muitos anos tivessem tomado a decisão de construir uma nova barragem no sotavento algarvio esse problema estaria hoje minorado. Mas temos sempre muitos estudos, mas ações concretas muito poucas.
Que soluções propõe particularmente para o Algarve?
Não se podem tratar problemas diferentes com soluções genéricas. Por isso, o Algarve precisa de um olhar transversal com soluções concretas para os principais problemas, que se mantêm ano após ano. Por sermos considerados uma região rica, no contexto europeu, temos vários entraves, por exemplo, na obtenção de fundos comunitários que apoiem as empresas. No período pós pandemia, na área do turismo, vamos ter desafios únicos que agarramos ou ficamos fora da corrida. É necessário aproveitar estes momentos para poder reabilitar unidades hoteleiras, de animação e de restauração para podermos continuar a estar na mente dos consumidores. Outros destinos estão a fazê-lo. Quando o efeito pandemia diminuir drasticamente as pessoas vão querer sair de casa. E irão, de um dia para o outro, escolher o destino. Por isso, fatores como a acessibilidade aérea, a política de preços, a qualidade do destino estarão na mesa de decisão. E não tenhamos dúvidas que, por exemplo, os destinos da zona não Shengen irão ter políticas muito agressivas com preços muito mais baixos, pois as questões fiscais, de emprego e outras não se colocarão nesses destinos. Esses governos tudo farão para atrair o máximo de turistas, baixando impostos, apoiando salários, investindo muito dinheiro em promoção. Ora, em todas essas áreas nós estaremos no lado oposto. Continuaremos carregados de impostos, sem ligações aéreas suficientes sem meios para uma promoção mais agressiva do destino e com dificuldades do costume. Por exemplo, porque não afeta o estado uma pequena fatia do IVA, que todos pagamos, para a promoção da região? Os empresários não pedem que lhes seja devolvido esse valor, mas sim que seja reinvestido numa área onde somos deficitários e que é tão importante para toda a região.
Por isso deveria haver um plano estratégico para o Algarve, no qual a AHETA está disponível para participar, que defina regras a x anos, seja qual for o governo da nação e as forças políticas dominantes na região.
Esse plano estratégico deverá ser uma espécie de ‘linha norteadora’ ou deverá ser objetivo, concreto e aplicável?
Um plano estratégico deve ser algo que define a atuação de todos os intervenientes de uma atividade económica, por exemplo, por um período alargado de tempo. Só assim se podem conseguir resultados concretos. O que assistimos em Portugal é cada vez que muda um governo, gastam-se meses ou anos a definir essas linhas estratégicas e quando as mesmas estão a começar a ser implementadas, cai o Governo ou há eleições. E fica tudo na mesma… Por outro lado, cada entidade tenta apresentar o “seu” plano de ação que colide com o outro ao lado. A AHETA não quer, por si só, fazer esse plano. O que queremos e exigimos é ser parte integrante do mesmo e dar os nossos contributos.
Se for uma regionalização com muita operacionalidade: Sim!
É a favor da regionalização ou basta descentralizar sem necessidade de instruir novos organismos?
Eu e a esmagadora maioria dos membros dos Corpos Sociais da AHETA somos favoráveis à regionalização, mas com algumas reservas. A maior dúvida que temos é a operacionalidade da eficácia dessa mudança versus os ganhos que a região terá. Se a criação de uma região administrativa do Algarve, e o Algarve tem as melhores condições para ser uma região piloto onde se testem soluções, contribuir essencialmente para a criação de mais cargos políticos, mais tachos, mas organismos aumentando exponencialmente os custos operacionais, não terá qualquer vantagem. Mas se for uma regionalização com muita operacionalidade, que tenha um número reduzido de deputados e organismos adequados às reais necessidades, será positivo. Porque não fazer nessa altura a necessária e urgente redução do número de deputados à Assembleia da República, permitindo que com os deputados regionais o número de deputados do país não venha a aumentar?
Como este é um tema que não reúne consensos e não prevejo que vá reunir, de imediato, também não veríamos com maus olhos a possibilidade de, rapidamente, se avançar para uma descentralização administrativa e de competências, com autonomia económica. Este seria um primeiro passo para chegar à regionalização, mas conhecendo o centralismo do Estado, tenho muitas dúvidas que o consigamos.