Um grupo de jovens deita-se no chão na segunda circular. Um outro ocupa uma faculdade. Outro ainda atira tinta a um ministro sem o magoar e a uma pintura sem a macular, como forma de protesto pela destruição do planeta.
E do alto da sua posição de privilégio, os comentadores, em público ou em privado, bastante bem instalados na vida e que raramente representam outros que não os que também estão bem instalados na vida, depreciam, quando não ridicularizam, esses mesmos gestos de protesto. Demonstram preocupação pela liberdade de expressão de ministros, pela integridade do património. Quando aos primeiros, enquanto responsáveis pelas políticas públicas não se podem aplicar as mesmas regras a que ao cidadão comum. Sobre os segundos, basta dizer que uma paisagem natural é um património tão ou mais valioso que um Picasso.
Chegados para além do Ponto de Não Retorno no que ao ambiente diz respeito mas também no respeitante ao amorfismo da consciência social, que forma mais depressa opinião via redes sociais e jornalismo subjugado ao corporativismo, do que a escutar pessoas que dão o corpo ao manifesto, todos as acções de rebelião são descartadas como supérfluas. A menos que sejam feitas por celebridades ou em grande escala.
Fazer posts e stories pode ser um acto de protesto ou solidariedade eventualmente válido em determinadas instâncias, sobretudo pelo chamado efeito bola de neve, mas, dizia Gill Scott Heron, a revolução não vai passar na televisão. Nem mesmo na internet.
Parecemos esquecer o modo como os capitães de Abril possibilitaram a revolução, como os regicidas aceleraram a transição para a república, como se deu a revolução francesa, o maio de 68, a comuna de paris e até mesmo o 25 de novembro – que uma certa tranche direitista esfomeada de símbolos tenta resgatar como o Abril da direita – todos estes momentos aconteceram porque alguém fez mais do que comentar.
Nada disto aconteceu devido a comentadores que proferem frases como “isto não serve para nada” ou “estes miúdos estão a exagerar.” Aconteceu apesar deles.
O que esperamos nós da nossa juventude, se não actos revolucionários? Qual o propósito da juventude, que não agitar as estagnadas e salobras águas da resignação? Escreveu-se e bem, nas paredes de Paris no mais romântico mês de maio que a cidade conheceu: Os jovens fazem amor, os velhos fazem gestos obscenos.
Por um lado, criticamos os jovens porque vivem vicariamente através de ecrãs e não têm experiências reais, mas quando o fazem – quando embarcam em marketing de guerrilha por causas e não por interesse próprio – são igualmente menosprezados como imberbes e ridículos.
Prefiro aquele que se arrisca destemidamente ao ridículo ao lutar pelo que acredita e que respeita a todos, como é o caso do clima, ao protesto bafiento e conformado do digital que observa primeiro as regras do civismo, e depois as do humanismo. Desta forma, jamais qualquer soutien teria sido queimado.
Que houvesse uma Greta para cada milhão de Velhos do Restelo e talvez a mineração risivelmente apelidada de transição verde, encontrasse mais dificuldades.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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