Se ficou a duvidar sobre o que entendemos por “diplomacia cultural” não se preocupe, especialistas na matéria, como a Dra. Jessica GienowHecht, da Universidade Freie de Berlin, já o definiram como “um dos termos mais confusos da história diplomática moderna”.
Existem múltiplas interpretações no que respeita à diplomacia cultural ou também denominada diplomacia pública. De acordo com a definição do Departamento de Estado dos EUA em 1959, “a diplomacia cultural está destinada a alcançar objetivos que resultam inacessíveis desde a diplomacia tradicional. O seu propósito principal é melhorar a imagem exterior dos países, para com isso criar um melhor clima de compreensão e confiança internacional onde as relações oficiais possam operar”. Outro termo bastante associado a diplomacia cultural é o chamado “poder brando”, do professor de Harvard Joseph Nye, para referir as ações paralelas dos governos capazes de conseguir que “os outros queiram o mesmo que você” mediante estratégias de sedução e não coerção.
Em contraposição à diplomacia tradicional que funciona entre governos, esta nova diplomacia cultural é dirigida diretamente aos cidadãos estrangeiros. A imagem pública de um país está nas mãos da cidadania, que tem voz e poder de incidir internacionalmente através dos blogs e as redes sociais. Como aponta o especialista Javier Noya, com a revolução imposta pela internet e o acesso às novas tecnologias, a diplomacia “já não é só coisa de diplomatas”. A diplomacia cultural não se trata unicamente de campanhas de marketing destinadas a projetar uma imagem positiva, a verdadeira diplomacia cultural deve favorecer intercâmbios culturais e relações duradouras entre cidadãos, onde ambas as partes fiquem beneficiadas (o famoso Win-Win).
Segundo um estudo do Real Instituto Elcano, no contexto europeu, as ações de diplomacia cultural têm sido responsabilidade histórica dos institutos culturais: Instituto Cervantes, Camões, British Council, Institut Français… Todos eles têm, no mínimo, três objetivos comuns: a difusão da marca-país; o intercâmbio e cooperação cultural; e a promoção linguística e educativa.
O modelo espanhol
No caso espanhol, desde o início da democracia, tanto a cultura como as relações exteriores foram redefinidas num processo de delimitação de competências entre o estado central e as comunidades autónomas que teve como resultado um complexo mapa de instituições destinadas a tal fim. Não só o governo central realiza ações de promoção internacional da cultura, mas também as comunidades autónomas, como é o caso do Institut Ramon Llul de Catalunha. Na atualidade, algumas das instituições que promovem a cultura espanhola no exterior são: o Instituto Cervantes, a Agencia Espanhola de Cooperação (AECID) ou o ICEX.
Possivelmente, o caso espanhol não é o modelo a seguir no que respeita à gestão do orçamento público (neste sentido Portugal tem dado um passo em frente com o Instituto Camões, que aglutina num só organismo a promoção da língua e a cooperação portuguesa), mas definitivamente é importante reconhecer o esforço e a inovação que Espanha tem realizado, especialmente na cooperação cultural através de programas de capacitação como: o ACERCA, que fortalece as indústrias culturais em países em desenvolvimento; ou a Rede de Casas (Casa África, Casa Asia), descentralizadas no território nacional e que têm introduzido a inovação de realizar diplomacia cultural “de dentro para fora”, entre outros.
Para mais informações, recomenda-se aos interessados a visita dos sites das instituições mencionadas, para perceber as múltiplas linhas de ação e inclusive as possibilidades de trabalho conjunto com Portugal.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Agosto)