Em 2016, o então secretário de estado da Administração Interna, Jorge Gomes, apelidava a N125 – que liga Vila Real de Santo António a Vila do Bispo – de ‘estrada da morte’, uma das mais perigosas de Portugal, com cinco pontos negros. Sete anos volvidos, esta via que atravessa todo o Algarve continua a ser das mais mortíferas do país. E em grande parte contribuiu para que o distrito de Faro continue nos lugares cimeiros da tabela, não apenas dos acidentes de viação, mas também do número de vítimas mortais e feridos (graves e ligeiros).
- Por João Tavares
Segundo o último relatório da Associação Nacional de Segurança Rodoviária, divulgado já este verão, o distrito de Faro registou em 2022 uma das maiores subidas percentuais no que diz respeito a acidentes de viação, com mais 20,6% relativamente a 2021, posicionando-se apenas atrás de Viana do Castelo (21,9%). Trocando o valor percentual pelo absoluto, então estamos a falar de um total de 2035 acidentes (colisões, despistes, atropelamentos), que provocaram 37 vítimas mortais (26 em 2021), 174 feridos graves e 2.290 ligeiros. No que diz respeito a mortes, à frente do distrito algarvio ficou apenas Lisboa (58), Setúbal (46) e Porto (41).
“A N125 é uma estrada onde tudo acontece: onde se vendem laranjas, onde se come, onde há discotecas, stands de carros e até funerárias”, contou ao Postal do Algarve o presidente e fundador da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados, organismo que defende os direitos de peões, condutores e de todos os utentes das vias rodoviárias. “A N125 é um desastre total. É a montra da desregulação total paisagística que resulta de um poder local sem travões, onde tudo é licenciado e permitido. E atualmente está um pouco mais domesticada”, conta Manuel João Ramos.
Via do Infante é fraca alternativa à N125
Para este responsável, são muitos os fatores que contribuem para a alta perigosidade da N125. É uma estrada que tem transporte de curto, médio e longo curso, onde há motos, carros, camiões, autocarros. Tem uma diversidade de tráfego que potencia as tragédias. Parece que tudo vai lá parar”.
Nem a criação da A22 – a conhecida Via do Infante -, que apenas ficou concluída totalmente em 2003 -, tirou protagonismo à N125. “Desde o início que a Via do Infante se apresentou como uma fraca alternativa, pois nem era uma verdadeira autoestrada (…) além do mais é paga, o que leva aqueles que querem poupar uns tostões a circular na N125. Confrontado pelo facto desta via ter pórticos de pagamento, Manuel João Ramos diz que “não há almoços grátis”. “Alguém tem de pagar. Paga o Governo? O condutor? A população em geral? Paga aquele que vive em Trás-os-Montes? O modelo de financiamento e pagamento nunca foi alvo de discussão pública”. E dá um exemplo em jeito. “Já viu que na nossa vizinha Espanha não se paga para circular nas autoestradas?”.
Segundo os dados do último relatório da ANSR, em 2022 as estradas portuguesas foram palco de 34.275 acidentes com vítimas. De norte a sul do país, e contando ainda com as Regiões Autónomas da Madeira e Açores, acabaram por perder a vida 473 pessoas, enquanto 2.436 ficaram feridas de forma grave e outras 40.123 foram consideradas feridos ligeiros. Das vítimas mortais, 66,5% eram os condutores das viaturas, 18,4% passageiros e 15,1% peões.
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